Hospital Marechal Cândido Rondon.
Imagem: Acervo Família Seyboth
Diretor clínico e técnico do Hospital Rondon, Dietrich Seyboth (Hippi): "Foram criadas estruturas enormes. Qualquer um deles (hospitais), sozinho, seria suficiente para a cidade. Isso tornou os hospitais ociosos e deficitários".
Imagem : Acervo O Presente - Crédito: Maria Cristina Kunzler
Hospital Filadélfia pronto visto da entrada principal, em 1954.
Os irmãos Dieter Leonard, Carlos Mathias (fundo) , Hippi, Pedro e Ingrun (Guni) em 1960
Friedrich Seyboth instalou o primeiro hospital, o Filadélfia, em 1954, quando o município ainda era distrito de Toledo. A família também implantou, há quase 40 anos, plano de saúde.
Dia 27 de dezembro de 1953. Esta foi a data em que o médico Friedrich Rupprecht Seybot e sua esposa Ingrun chegaram a General Rondon, distrito de Toledo, como os filhos Dietrich (Hippi), Dieter, Matias e Pedro - os dois primeiros nascidos na Alemanha, enquanto os outros dois no Brasil. Quatro anos mais tarde, nasceu a filha do casal, Ingrun (Guni).
A família veio de Ipira (SC) para uma comunidade que havia começado a ser colonizada três anos antes. O doutor Seyboth, como era conhecido, veio para a região determinado a instalar um hospital. " Na época, começava um movimento de colonização do Oeste do Paraná, que atraiu muitos agricultores de Joaçaba, Concórdia, Piratuba, Ipira (todas em Santa Catarina e outras cidades do Rio Grande do Sul. Meu pai juntou dinheiro e nos mudamos em 1953 para Marechal Rondon num acordo com a Colonizadora Maripá", conta Hippi, que também é médico.
Para a companhia era interessante ter um hospital na vila de General Rondon, pois isso poderia atrair ainda mais pessoas para a região. " O Willy Barth (administrador) e Ondy Niederauer (contador) emprestaram para o meu pai toda a madeira para construir o hospital. Inclusive os pregos foram um empréstimo pessoal de Willy Barth", relembra o filho do doutor Seyboth.
Com o apoio da colonizadora, o Hospital Filadélfia foi inaugurado no dia 25 de julho de 1954 - amanhã (25), portanto comemora 61 anos.
Começo turbulento
Hippi comenta que o começo da colonização em Marechal Cândido Rondon foi muito crítico. Isso porque as pessoas passaram a investir tudo o que tinham no cultivo do café. "Plantava-se café, que ficava exuberante, mas a região é relativamente alta e afeita à geada e ao frio, então as pessoas perdiam a produção por conta do clima. A região foi empebrecendo muito porque o dinheiros que as famílias traziam foi acabando e não havia produção. Aí surgiu uma vocação, que se manteve por muito tempo, que foi a suinocultura. Porém, quando estava no auge, houve a peste suína clássica, que dizimou o rebanho. Foi algo arrasador", declara o médico rondonense.
Com as perdas com o café e suíno,a economia da região praticamente parou no fim da década de 1950. Friedrich Seyboth chegou a pensar em fechar o hospital e trabalhar como viajante de laboratório, comenta o filho.
Batalha de Egos
Doutor Seyboth foi o primeiro médico de Marechal Rondon. Em 1957 outro profissional se estabeleceu por aqui, Aylson Confúcio de Lima, e os dois se tornaram amigos. Contudo, Hippi diz que houve uma batalha de egos. Os médicos que chagavam vinham com a intenção de estabelecer um hospital e foi criando rivalidades, até porque se tratava de uma pequena comunidade.
"As rivalidades se estabeleceram aqui, de certa forma. Apesar do meu pai e do Confúcio serem amigos, eles foram investindo em superdimensionamento da rede hospitalar em Rondon", revela.
Enquanto a família Seyboth tinha o Hospital Filadélfia, Confúcio instalou o Hospital Rondon e, mais tarde, passou a contar com um sócio - Fernando Chioratto, que trabalhava em Quatro Pontes. Renato Marchezani era proprietário do Hospital Pequeno Príncipe e Ítalo Fernando Fumagalli também havia instalado seu hospital. Isso ocorreu logo nos primeiros anos após a emancipação do município, entre 1960 e 1970, diz Hippi. "Essa rivalidade entre os médicos criou uma babilônia em termos de leitos e oferta de serviços hospitalares, mesmo em uma época em que já havia direcionamento do hospital para tecnologia, e não para internamento. Foram criadas estruturas enormes. Qualquer um deles, sozinho, seria sufi
ciente para a cidade. Isso tornou os hospitais ociosos e deficitários", analisa.
Quando tudo mudou
"O Pequeno Príncipe nunca foi comprado para ser um hospital da família. Ele foi comprado para livrar o mercado, para ter um concorrente a menos".
Na década de 1970 surgiu algo em Marechal Rondon que fez toda a diferença no sistema de saúde, mas que é tão rotineiro que poucas pessoas se dão conta de sua importância para a história do município. Doutor Seyboth havia sofrido um infarto e Dieter passou a ajudar na administração do Hospital Filadélfia, oportunidade em que apresentou a ideia de algo que já tinha visto e conhecia: a implantação de convênio médico. "Começamos a trabalhar com convênio médico em 1976, o qual, no ano quem, completa 40 anos (Sempre Vida). O convênio nos deu fôlego e poder econômico para comprar não os hospitais, mas o mercado", relata Hippi.
Em 1º de agosto de 1981, a família Seyboth adquiriu o Hospital Rondon, cujo contrato foi feito com pagamento previsto em 240 parcelas (20 anos). "Trouxemos toda a parte clínica para o Hospital Rondon e transformamos o Hospital Filadélfia integralmente em unidade psiquiátrica, pois era do interesse do Ministério da Saúde e da saúde pública, e nosso interesse também. Quando instituímos o hospital psiquiátrico, ampliamos enormemente o mercado, pois passamos a ser referência para todo Sul do Mato Grosso do Sul, Norte de Santa Catarina, enfim, uma população estimada em quatro milhões de habitantes", afirma Hippi.
A família também comprou, na década de 1980, o Hospital Pequeno Príncipe, cujo investimento foi de US$ 500 mil na época. "O Pequeno Príncipe nunca foi comprado para ser um hospital da família. Ele foi comprado para livrar o mercado, para ter um concorrente a menos, tanto que em pouco tempo depois foi fechado. Pegamos tudo que tinha de bom em termos de equipamentos e levamos para o Hospital Rondon", esclarece o médico.
Anos depois a estrutura foi vendida e hoje abriga a Unidade de Saúde 24 Horas, no centro de Marechal Cândido Rondon,
Tecnologia
De acordo com Hippi, o plano de saúde também permitiu um investimento maciço em tecnologia. "Lembro que um dia telefonei para o Dieter e disse: ou investimos em tecnologia ou podemos fazer um hotel, porque ninguém mais vai ficar internado. Hoje se faz uma cirurgia de joelho por vídeo e no dia seginte o paciente vai para casa. O plano de saúde nos permitiu, ainda, ter condições financeiras para trazer profissionais com capacidade técnica sólida, argumenta.
O salto de investimento que ocorreu, tanto em termos de corpo clínico como de tecnologia, começou por volta de 1990. "Começamos a investir em diagnóstico, ultrassom, vídeo. A videolaparoscopia tomou impulso no Brasil em 1992, em cidades grandes e alguns hospitais. Nós fizemos a primeira videolaparoscopia em outubro de 1995, quando ninguém da região ainda tinha essa tecnologia", se orgulha o médico.
Mudanças no comando
Em 1982, o doutor Seyboth sofreu o terceiro enfarto e faleceu. Com a morte, Dieter e a dona Ingrun passaram a administrar os hospitais. No entanto, o filho começou a ter envolvimento na política rondonense. "Ele foi eleto vereador na época em que meu pai faleceu e nessa legislatura se tornou presidente da Câmara. O Dieter assumiu o mandato de prefeito por oito meses. Depois ele voltou para o hospital no mandato do ex-prefeito Ilmar Priesnitz", expõe Hippi.
Em 1988, Dieter foi eleito prefeito. Neste tempo, dona Ingrun continuou na administração dos dois hospitais, enquanto os irmãos - Dieter e Hippi - se revezavam. Em 1990 a matriarca da família deixou definitivamente o trabalho, tendo em vista que a saúde já estava fragilizada.
Como isso, Hippi passou a participar cada vez mais da administração dos hospitais e por um período cuidou dos negócios apenas com sua esposa, Carolina. "Hoje quem administra o dia a dia dos hospitais é a Ana Carolina (Seyboth, filha de Hippi) e eu faço a parte técnica", cita Hippi, que é o diretor clínico e técnico. Os cinco irmãos são sócios igualitários dos hospitais Rondon e Filadélfia.
Hospital Filadélfia
O Hospital Filadélfia completa amanhã 61 anos. Seria uma data para ser comemorada, se não fosse um detalhe: a instituição está concluindo o processo de fechamento da ala de internamento, que será definitivamente desativada. Para Hippi, a unidade hospitalar é vítima de uma corrente ideológica dentro do Ministério da Saúde que entende o hospital psquiátrico como desnecessário, prejudicial e até imoral em relação ao atendimento do paciente. "Assim como os outros hospitais psiquiátricos, o Filadélfia foi estrangulado financeiramente e, à medida que os prejuízos foram se tornando insuportáveis, a direção optou em fechar a ala de internamento", lamenta o médico.
Hospital Rondon
Se de um lado parte da história do Filadélfia chega ao fim, de outro o Hospital Rondon se tornou uma referência regional em termos de capacidade técnica, de instalação e atendimento. "Sempre há no contexto do dia a dia momentos em que há falhas e um resultado que não queremos ou esperamos, mas no contexto geral o Hospital Rondon é um ótimo hospital. É sinônimo do que queremos em assistência médica. A história mostra que os bons hospitais são os que possuem alta tecnologia envolvida, têm resultados e muito investimento. O Hospital Rondon está nesta linha, onde hoje são realizados 300 cirurgias por mês", encerra Hippi.
* Material transcrito de O Presente, nº 4136, edição de 24.07.2015, p. 66 e 67.
As imagens usadas tem similaridade com as do texto transcrito.
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