Uma verdadeira enciclopédia ambulante, Franz Wallenoffer conhece uma variedade enorme de espécies de palmeiras, além de ser um exímio tocador de bandoneón, um instrumento típico de origem alemã. Foto: Sandro Mesquita/OP
Registro de como era a propriedade há 12 anos. Foto: Sandro Mesquita/OP
Registro de como a propriedade está atualmente. Foto: Sandro Mesquita/OP
Wallichia Disticha: originária da região Norte da Índia. Conhecida como a palmeira leque do himalaia, a espécie atinge entre cinco e oito metros de altura no máximo, o que a diferencia de grande número de outras variedades de palmeiras, que geralmente são mais altas. Foto: Sandro Mesquita/OP
Bismarckia nobilis: palmeira azul é o nome popular dessa planta originária da região de Madagascar, na África, e recebeu esse nome graças à coloração levemente azulada de suas folhas. Além disso, é bem conhecida pelo formato de leque que sua folhagem possui. Foto: Sandro Mesquita/OP
Pritchardia Pacifica: nome popular é palmeira-leque-de-fiji e pode atingir 12 metros de altura e cinco de diâmetro. Foto: Sandro Mesquita/OP
Gaussia Maya: planta rústica, originária da América do Norte, pode chegar a 20 metros de altura. Possui frutificação no tronco. Foto: Sandro Mesquita/OP
Quem entra pela primeira vez na propriedade de Franz Joseph Wallenoffer, no interior de Marechal Cândido Rondon, se surpreende com a exuberância e o capricho nos detalhes que dão as boas-vindas aos visitantes.
A recepção normalmente fica por conta de Franz, 57 anos, que em 2010 saiu de Londrina, sua cidade natal, depois de vender suas terras por lá, as quais já se encontravam cercadas pelo asfalto e concreto. O objetivo, de acordo com ele, era encontrar um lugar que pudesse moldar conforme seu gosto e também para firmar raízes. “Não adiantava para mim ter uma bela terra e não ter onde morar, nem um barracão cheio de máquinas e não ter condições de plantio. Precisava do conjunto necessário para a subsistência para continuar na agricultura”, relatou ao O Presente.
E o local foi escolhido a dedo. Um sítio na Linha Concórdia, onde ele mora com a esposa e a sogra.
“Já na entrada, quando vi essa propriedade, falei: essa é minha”, revela.
Ele conta que conheceu o imóvel através de sua cunhada, que morava em Marechal Rondon e viu o anúncio de venda em um classificado no Jornal O Presente. “O anúncio era muito atraente e chamativo e com isso a gente se acertou nos valores e acabamos comprando”, menciona.
AGRICULTURA
Com as áreas cultiváveis da propriedade arrendadas, Franz não se arrepende da escolha que fez há três anos. “Hoje estou meio parado com a agricultura. Graças a Deus e a minha escolha, porque se eu tivesse continuado plantando com certeza absoluta estaria vendendo terras e num caos financeiro”, comenta.
A intenção, segundo ele, é se desligar totalmente da agricultura e se dedicar exclusivamente ao reflorestamento. “Se analisarmos nossas vidas a cada dez anos, veremos que o que fazemos hoje não terá mais valor. Nossa vida é uma evolução constante e a agricultura, para mim, foi uma coisa de jovem, entre os 20 e 50 anos”, salienta.
Baseado nas experiências empíricas, Franz acredita que os agrotóxicos prejudicam muito a qualidade de vida dos agricultores. “Já cheguei ao ponto de às 09 horas, enquanto aplicava veneno, desligar o trator em pleno serviço e pensar: o que estou fazendo aqui? Não lembrava nem que período do dia estava. Sofria alucinações”, conta.
COLECIONADOR
Franz, que se autodenomina colecionador e um quase ex- agricultor com uma “célula” de ambientalista, transformou a propriedade que se encontrava totalmente degradada em um refúgio ecológico que abriga árvores nativas e centenas de espécies de plantas. Mas uma em especial é considerada sua grande paixão: as palmeiras. O local abriga cerca de 200 espécies de palmeiras encontradas no Brasil e muitas outras variedades de diversos países. “No mundo são conhecidas aproximadamente 2,7 mil variedades, das quais têm 240 gêneros e muitas outras novas subdivisões”, explica.
Segundo a literatura, no Brasil existem em torno de 300 espécies catalogadas, no entanto, especialistas afirmam existir no país mais de 200 variedades na região Sul do cerrado e cerca de 500 no cerrado até o extremo Norte.
INCENTIVO DA MÃE
Nascido em uma família de agricultores, o amor pelas plantas começou ainda na infância com o incentivo um tanto quanto forçado de sua mãe, que gostava de manter o jardim sempre com uma boa aparência. Mas ele confessa que naquela época, devido à pouca idade, não gostava muito de ajudar na jardinagem. “Era mais por obrigação”, declara, sorrindo.
Mas aos poucos, Franz começou a se apaixonar pela natureza e o resultado hoje é ter uma das maiores coleções encontradas na região que se tem conhecimento. “Quando se faz bem feito a gente pega gosto por si mesmo e não pela outra pessoa”, considera.
Mas a paixão pelas palmeiras começou mesmo a tomar outras proporções ainda em Londrina, após a transposição de uma espécie nativa na região, comumente conhecida por jerivá (Syagrus romanzoffiana).
“Tirei exemplares de uma área que foi exterminada para melhorar a curva de nível da lavoura”, conta.
Franz explica que plantou de maneira alinhada as palmeiras próximo à rua, o que chamava a atenção de quem passava em frente ao sítio da família. “Depois disso foram chegando até mim exemplares de outras espécies, mas acabaram se perdendo”, pontua. No entanto, a paixão pelas palmeiras se transformou em amor quando comprou a chácara em Marechal Rondon. “Existe um ditado alemão que diz que cada ser humano tem seu passarinho, e esse passarinho significa uma loucura. As palmeiras são a minha”, afirma.
E para confirmar essa “loucura”, basta andar pela propriedade. No local é possível encontrar muitas espécies, todas identificadas com a origem e o nome científico.
De acordo com ele, não existe uma explicação lógica para o gosto de colecionar. Inclusive, Franz conta que muitas pessoas perguntam a ele qual a razão para fazer isso, uma vez que não lhe traz benefícios financeiros. “Cada pessoa durante a evolução da vida acha seu caminho, e quando percebemos que conseguimos através do seu esforço transmitir esse conhecimento, com certeza não estamos no caminho errado”, entende.
PALMEIRA ANDANTE
Algumas das espécies encontradas na propriedade de Franz encantam pela majestosidade, como a palmeira real, outras pela curiosidade, como uma conhecida popularmente por pixiuba ou palmeira andante (Socratea exorrhiza), uma espécie pertencente à família das Arecaceae, que ocorre da América Central até a Bacia do Amazonas. Natural de locais alagadiços, onde suas raízes adventícias garantem sustentação adequada.
A crença popular confere à Socratea exorrhiza uma característica extraordinária de ir movendo-se de lugar, de acordo com as suas necessidades. Entretanto, não há comprovação científica que isso de fato ocorra.
PROJETO
O amor pelas palmeiras aos poucos está se tornando um projeto, e já tem até nome, que, segundo Franz, ainda é provisório: Projeto Palmas no Oeste.
Franz destaca a participação de seus inúmeros amigos e colaboradores de vários cantos do Brasil, que o ajudam com a doação de mudas e sementes de outras variedades para enriquecer ainda mais sua coleção. “Tenho um leque de amigos envolvidos na coleta de sementes a quem agradeço muito a ajuda”, ressalta.
Ele destaca também dois outros colecionadores de palmeiras existentes em Marechal Rondon, os quais se inspiraram na sua coleção. “Temos duas grandes coleções praticamente acompanhando de igual para igual a minha. Esse lugar com certeza ainda vai inspirar muita gente”, vislumbra.
VISITAÇÃO
Ao que parece, o carinho e as muitas horas diárias de dedicação que refletem na beleza de sua coleção, poderão ser apreciadas por mais pessoas, além dos amigos e conhecidos que atualmente visitam o sítio.
A ideia, de acordo com Franz, é abrir o espaço para visitação. Ele, no entanto, não sabe ainda como fará para que não ocorra degradação da área. Uma das possibilidades é abrir para visitas agendadas e oferecer algum atrativo gastronômico, como um café colonial, afinal, segundo ele, sua esposa é uma ótima confeiteira.
CLIMA
As mudanças climáticas registradas no mundo que causam desastres naturais e períodos mais prolongados de seca, conforme Franz, se devem quase exclusivamente à interferência do homem no planeta. Ele acredita que é um processo lento e irreversível, uma escada em descendência.
“O ser humano está contaminado pela ganância e isso não leva a nada. Quando vemos o final da vida de uma pessoa, percebemos que todo mundo é igual”, ressalta.
Segundo ele, existem muitas áreas improdutivas para a agricultura que foram devastadas e que poderiam ser recuperadas se mais pessoas dessem a verdadeira importância à natureza. “O reflorestamento consegue aos poucos proporcionar uma melhora no clima, e isso é imprescindível”, conclui.
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