Suinocultura rondonense projetava o município

Pioneiros 24 de Julho de 2015

Este texto fecha a tetralogia dos textos históricos selecionados da edição do jornal O Presente, de 24 de julho de 2015, para ser compartilhada no portal do "Projeto da Memória Rondonense". 

O conjunto de quatro textos é formado: 1) Familia Seyboth - precursora na área médica em Marechal Cândido Rondon; 2) Marechal Cândido Rondon - história feita por gente que trabalha e ousa; 3) O primeiro jardim de infância; e 4) Suinocultura rondonense projetava o município. 


Caminhão carregado de suínos tendo ao fundo a casa de comércio do pioneiro rondonense Alfredo Nied.

Caminhão carregado de suínos tendo ao fundo a casa de comércio do pioneiro rondonense Alfredo Nied.

Suinocultor rondonense Mário Adams.

Suinocultor rondonense Mário Adams.


COLONIZADORES TRAZIAM ANIMAIS JUNTO COM A MUDANÇA, DO RIO GRANDE DO SUL E SANTACATARINA. HOJE MARECHAL CÂNDIDO RONDON TEM O SEGUNDO MAIOR REBANHO DO ESTADO. 

Soja, milho, suinocultura, produção de leite, avicultura, hortifruti... Hoje em dia Marechal Cândido Rondon chama atenção por uma produção agropecuária que vai muito além da combinação soja/milho. Aliás, os grãos entraram na história do município somente algum tempo depois. A atividade que, desde o início, acompanhou os colonizadores e depois os rondonenses, de fato, foi a suinocultura.  Atualmente, com o segundo maior rebanho de suínos do Estado, representando 5,9% (324 mil em 2012) do total (o primeiro é Toledo, com 9,9%), a atividade sempre teve importância destacada no desenvolvimento de Marechal Rondon.

A maioria dos colonos que chegaram à então vila de General Rondon trabalhavam no sistema familiar e inclusive as crianças participavam da distribuição das tarefas, principalmente os meninos. É o caso do suinocultor Mário Adams. O pai dele, Nicolau Léo Adams, chegou em Rondon no fim da década de 1950. Gostou do lugar, fez negócio e comprou terras onde hoje é o distrito de Margarida. A família chegou em 02 de junho ee 1960, depois de vários dias de viagem. 

No caminhão que saiu de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, estava a esposa e dez dos 11 filhos e alguns utensílios. Isto porque metade da carroceria era ocupada por 11 matrizes suínas. O colono  queria iniciar a nova vida com uma atividade já garantida, e nada melhor que a suinocultura, com a qual já trabalhavam em território gaúcho. Mário Adams lembra que a viagem foi marcada pela necessidade de parto de algumas porcas ainda no caminho. " Quando chegamos a Margarida.já tinha leitão para vender", conta.

Na nova terra, havia muito trabalho. Adams conta que o pai dividiu as atividades entre os filhos. Uns iriam ajudar a abrir áreas e cultivar a terra, outro trabalharia com serralheiria ... Mário, aos 12 anos, ficou incumbido de cuidar dos suínos. "Todo mundo tinha sinocultura e era normal criança e adolescente ajudar o pai e até mesmo cuidar sozinho", lembra ele. No caso da família Adams, eles já iniciaram com a vantagem de ter matrizes, área que Mário atua até hoje. Atualmente são 300 fêmeas suínas na propriedade. 

COMÉRCIO

Está na memória de Adams, mas é confirmado por estudo da historiadora Lucia Terezinha Macena Gregory, que desde a década de 50 já havia um comércio bastante intenso de suínos em Marechal Cândido ondon. Conforme Adams, a própria colonizadora Maripá incentivava os colonos a trazerem seus animais porque já havia um sistema de comercialização consolidado.

O sistema em questão seria o Empório Toledo Ltda., que encarregava-se de levar a produção para Ponta Grossa, Curitiba e São Paulo. A suinocultura tinha tal importância que os suínos foram um dos destaques da histórica exposição de 1958 e também foram protagonistas no mesmo ano de reportagem apresentada pela Revista Municipalista - periódico editado em Curitiba. 

EXPANSÃO

Além da Maripá, os comerciantes locais também passaram a negociar suínos, caso do empresário Alfredo Neid (in memorian) que levava suínos para Ponta Grossa e São Paulo. As viagens chegavam a durar quase um mês, tendo em vista as condições das estradas. Os preços a ser pagos pelos animais só eram sabidos quando as cargas chegavam ao destino, tendo em vista que telefone era uma tecnologia rara para a época.

Na década de 60, Marechal Rondon já tinha um dos maiores rebanhos suínos do Paraná. Tanto que, em 1963, foi fundado o Frigorífico Rondon S/A, que contava com a participação do próprio Alfredo Nied. 

Segundo Mário Adams foi a suinocultura que fomentou o desenvolvimento de culturas agrícolas na região. "Era preciso muita mandioca e milho para alimentar os animais", explica. A atividade chegou a ser considerada o principal ramo econômico dos rondonenses. Se hoje o município tem o segundo rebanho de suínos do Paraná, na década de 70 recebeu o título de "Município de maior criação do Estado".

A suinocultura também fomentava o comércio. Quando o suinocultor recebia o dinheiro do suíno vendido. fazia compras na "cidade". Conforme Mário Adams, em Margarida, o crescimento da atividade esbarrou na formação do Lago de Itaipu, quando muitos produtores saíram da região. 

FRIGORÍFICO

Além do Frigorífico Rondon, outros surgiram na região e, assim, as viagens de caminhões carregados de animais foram reduzidas. O abatedouro rondonense depois foi vendido para a Colonizadora Maripá, que o transferiu à Central Cooperativa Frimesa. Tempo depois, a infraestrutura foi adquirida pela multinacional Swift e, finalmente foi desativada. Não fosse um novo ciclo ter iniciado na região, o fechamento do frigorífico seria mais sentido pelos produtores. Nessa época, com o incentivo do governo federal, a soja tornou-se o foco do investimento.

LAVOURAS 

Assim como em todo o Brasil, Marechal Cândido Rondon iniciou um processo de mecanização das lavouras na década de 70, tempo em que o governo incentivou o plantio de soja e trigo para melhorar a balança comercial, visando à exportação. O processo iniciado com Emílio Médici teve seu auge com João Batista Figueiredo, que propagou o slogan: "Plante que o João garante". Muitos produtores rondonenses, então, tiraram o foco da suinocultura para abrir novas áreas de terra. A resposta eficaz do jovem município chamou a atenção do presidente Ernesto Geisel, que veio a Marechal Cândido Rondon em abril de 1976¹. A intenção era fazer do município um modelo para o país. 
 

¹ Ocorreu um erro por parte do produtor da metária. A visita do Presidente Geisel foi em 19 de março de 1976. 
 

MUITA COISA MUDOU

Desde a década de 50, muita coisa mudou na suinocultura. Segundo Mário Adams, a atividade naquela época era muito mais trabalhosa, totalmente 'braçal". Naquele tempo, conta, as matrizes eram animais enormes, que chegavam a mais de 300 quilos. Porém, apesar do tamanho, as leitegadas eram bem menores, em torno de sete leitões. Hoje em dia, os suínos tem menor porte, mas a cada parto são de 12 a 14 leitões nascidos vivos.

Quem trabalhava com terminação, precisava até dez meses para engordar um suíno. Atualmente, a melhoria genética garante animais prontos para abate em cerca de cinco meses. Adams comenta, ainda, que hoje o manejo e o cuidado com os suínos são bem mais rígidos, para garantir sanidade. "A suinocultura evoluiu muito e Marechal Cândido Rondon acompanhou essa evolução. Hoje não perdemos em nada para produções de primeiro mundo", afirma. 

 

 

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