Dilma Rouseff asfastada temporiamente da Presidência da República, em 12 de maio de 2016. Imagem: Acervo NBR Repórter.
No início da manhã de 12 de maio de 2016, após uma sessão de quase 21 horas de duração, o Senado aprovou, por 55 votos a favor e 22 contra, a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, acusada de ter cometido irregularidades.
No discurso antes de deixar a presidência, Dilma afirmou: "Estou vivendo a dor da traição, a dor da injustiça. Ao longo da minha vida enfrentei muitos desafios, enfrentei o desafio terrível e sombrio da ditadura, da tortura, enfrentei como muitas mulheres desse país a dor indizível da doença. O que mais dói nessa situação que estou vivendo agora, a inominável dor da injustiça, a profunda dor da injustiça, a dor da traição. São duas palavras terríveis, traição e injustiça, são talvez as mais terríveis palavras que recai sobre uma pessoa e essa hora agora, esse momento é o momento em que as forças da injustiça e da traição estão soltas por aí”.
Eis o discurso, na íntegra, da Presidente antes de deixar o Palácio do Planalto:
"A tristeza é que vivemos uma hora de em que a jovem democracia está sendo alvo de um golpe. Porque chamo de golpe? Chamo de golpe porque o impeachment sem crime de responsabilidade é um golpe. Aqueles que não conseguiram chegar aqui ao palácio – por favor gente deixa eu ver o pessoal. Esse processo é um golpe porque é um impeachment sem crime. Eu não cometi crime de responsabilidade, estou sendo vítima de uma grande injustiça. Aqueles que não conseguiram chegar ao Governo pelo voto direto do povo, aqueles que perderam as eleições tentam agora pela força chegar ao poder. E esse golpe está baseado nas razões as mais levianas, as mais injustificáveis. Primeiro porque os atos de que me acusam são atos corriqueiros, que se faz todo dia. Foram feitos por todos os presidentes que me antecederam. Se não era crime naquela época, não é crime agora. Além, disso quem começou a esse golpe o fez por vingança, porque nós nos recusamos a dar a ele, ao senhor Eduardo cunha, os votos na Comissão de Ética para que ele fosse absolvido. A própria imprensa noticiou isso fartamente. A própria imprensa disse que ele estava fazendo chantagem contra esse governo. E eu não sou mulher para aceitar esse tipo de chantagem.
O que está em jogo nesse golpe é a democracia é a nossa Constituição. Uma democracia feita com a resistência de milhões de brasileiros. Mas o que está também em jogo nesse golpe é todas as conquistas que tivemos nos últimos 13 anos desde o Governo do presidente Lula. Todas as conquistas, e as conquistas foram muitas, foram a elevação dos mais pobres e da classe média, a proteção às crianças, o jovem chegando à universidade, foi o pré-sal, e tantas outras coisas. Foi um programa que foi eleito quando eu fui eleita, que garante as políticas sociais. Hoje o que eles estão tentando é acabar ou reduzir as políticas sociais. Usam de vários qualificativos: “Nós vamos focar, nós vamos rever”. Todas essas palavras tem um só significado: “Vamos diminuir, vamos reduzir, até acabar com elas”. Tenho a honra no meu Governo de ter sido a fiadora da democracia. Meu Governo jamais reprimiu movimentos sociais. Jamais reprimiu manifestações políticas, mesmo as que eram contra mim. O que é o risco que nós corremos agora? O que faz um governo ilegítimo diante de protestos, diante da divergência, de movimentos contrários, e isso a historia demonstra. Sabe o quer faz um Governo ilegítimo assim? Cai na tentação de reprimir as manifestações.
Eu fui a primeira mulher eleita presidenta da República. Honrei os votos que as mulheres me deram. Depois do primeiro operário presidente da República. Como qualquer pessoa humana, posso ter cometido erros, mas jamais cometi crimes. Honrei as mulheres deste país. As mulheres que são determinadas, esforçadas, trabalhadoras, que vivem em seu cotidiano desafiando todas as dificuldades. As mulheres mães, que hoje querem sua independência, sua autonomia, o controle de si mesmas. Essas mulheres, tenho a consciência que as honrei. Porque nós mulheres temos algo em comum. Nós mulheres somos dignas. Assim como todas as mulheres eu enfrentei desafios.
Eu quero dizer a vocês que ao longo da minha vida enfrentei muitos desafios. Enfrentei o desafio terrível e sombrio da ditadura e da tortura. Eu enfrentei a dor indizível da doença. Agora o que mais dói, é esta situação que eu estou vivendo agora, a inominável dor da injustiça. A profunda dor da injustiça, a dor da traição. A dor diante do fato que eu estou sendo alvo são duas palavras terríveis: traição e injustiça. São talvez as mais terríveis palavras que recaem sobre uma pessoa. E esta hora agora, este momento que estamos vivendo, é um momento em que as forças da injustiça e da traição estão soltas por aí. Quero dizer pra vocês que eu estou pronta para resistir por todos os meios legais. Quero dizer a vocês... Quero dizer a vocês, que eu lutei a minha vida inteira e vou continuar lutando. Acredito que nós todos temos de estar juntos. E agradeço a todos os movimentos, a todas as pessoas que foram para as ruas todos os dias dizer um não imenso, um não do tamanho do Brasil ao golpe. Agradeço a cada mulher, a cada homem, a cada trabalhador trabalhadora, do campo e da cidade, profissionais liberais, artistas e intelectuais que estiveram do lado certo da historia, do lado da democracia. Tenho certeza que juntos, vamos nos manter unidos, organizados e em paz. Somos aqueles que sabem lutar a luta cotidiana. Que sabem resistir e que não desistem nunca. Quero agradecer nesse momento triste, muito triste da minha vida. Obrigado" (Fonte).
Ver vídeo do discurso, clique aqui.
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Eis na íntegra o discurso de Michel Temer:
Sras. e Srs. Parlamentares, eleitores e não-eleitores, aproveito a manifestação do Plenário para dizer que agora não há eleitores e não-eleitores. Há deputados do Poder Legislativo brasileiro.
Meus amigos, sempre aprendi a distinguir muito bem, coisa que poucos fazem, entre o momento político-eleitoral e o momento político-administrativo. No momento político-eleitoral que antecede a eleição há uma disputa, muitas vezes, acirrada, em que vez ou outra podem lançar-se algumas farpas, mas que são superadas pela consciência que temos todos de que quem é eleito representa a todos. O momento político-administrativo é este que se inicia neste momento.
Ainda agora, recebendo o afetuoso abraço do deputado Ciro Nogueira, disse a S.Exa.: Vou precisar muito de sua experiência e do prestígio que V.Exa. tem com os colegas da Casa. Como lanço a mesma mensagem ao colega Aldo Rebelo, cujos méritos já exaltei, não preciso voltar a fazê-lo nessa segunda oportunidade.
Quero reiterar meu agradecimento a todos. Precisamente agora que fui eleito, tive, confesso, na tribuna, quando falava como candidato, a tentação de dizer o que agora vou registrar, ou seja, que não sou um deputado eleito pelo PMDB em favor do PMDB. Sou um deputado eleito presidente pela Casa, integrada por vários partidos.
Tenho a consciência absoluta do papel que a vida, muitas vezes, nos entrega. Ela já me entregou vários papéis, entregou o de secretário de Estado, o de líder do partido, o de presidente do partido, hoje me entrega o papel de presidente da Câmara dos Deputados. Quero representar esse papel, e o farei com a dignidade que o cargo exige e comporta e que os 304 votos me autorizaram a assim me expressar.
Quero dizer também - acho que o momento é oportuno - que iremos atravessar um biênio complicado. Não temos a menor dúvida de que o período não será fácil.
Portanto, todos temos que nos fraternizar, a começar pelos Poderes do Estado. Legislativo, Executivo e Judiciário hão de atuar em estreita harmonia, porque acima de qualquer divergência está o interesse do País.
Aqui, na Câmara dos Deputados, onde há situação e oposição, tenho certeza de que nós também iremos nos fraternizar. Vamos exercitar a tarefa de conduzir os destinos desta Casa voltados todos para os problemas do País.
Volto a dizer que a crise que se avizinha encontrará resistência no País, especialmente no Poder Legislativo. Em meu discurso como candidato disse: Nós precisamos habilitar, trabalhar aqui na Câmara dos Deputados para que possamos formular ideias que levem o País a enfrentar qualquer espécie de crise.
Sabemos também - alguns dos meus colegas que comigo concorreram levantaram este dado - que temas como o da educação, da saúde e da segurança pública não serão tratados por nós, como muitas vezes o são durante as campanhas nas eleições, como temas eleitorais, e sim como temas de interesse da sociedade brasileira.
Por isso, a todos eles nós vamos nos dedicar.
Quero registrar, também, que neste período nós vamos regulamentar toda a Constituição brasileira , um trabalho que se iniciou com o presidente Arlindo Chinaglia, mas que, evidentemente, não pôde ser levado a cabo, até o final, e, desde já, faço uma observação, para colocar entre parênteses um dos aspectos mais importantes da minha manifestação: o elogio público que faço ao presidente que deixa esta cadeira.
Arlindo Chinaglia soube comportar-se com muita dignidade, e nós todos sabemos como é difícil compor os interesses desta Casa. Apesar do seu jeito um pouco mais, digamos assim, objetivo e mais direto, de quem não costeia situações, o fato é que este objetivo direto, concreto, palpável, tem, ainda, a virtude de que palavra dada é palavra cumprida.
Eu acho que o presidente Arlindo merece de todos nós este reconhecimento - o reconhecimento de quem sai e deixa nesta cadeira uma responsabilidade muito grande, quanto a deixar exemplos. Deixa a nós a responsabilidade de nos conduzirmos nos termos em que ele conduziu, ao tempo em que nos deixa a todos do Parlamento a ideia de que é preciso acabar com essa história de acordos feitos não serem cumpridos. Acordos feitos pelas Lideranças, pelos partidos, pelas bancadas têm de vir para o plenário com o cumprimento absoluto entre todos os membros da Casa.
É isso, meus senhores e minhas senhoras, que dá relevo, que dá tamanho, que dá dimensão à nossa instituição.
Temos problemas urgentes pela frente. Urgentes e ingentes. Mas não vamos nos atemorizar quando eventualmente tivermos que tomar medidas impopulares, quando vez ou outra a imprensa, que é irmã siamesa do Poder Legislativo... A todo momento costumo dizer que Legislativo forte é sinônimo de imprensa livre e imprensa forte, e que Legislativo fraco e fechado é sinônimo de imprensa fraca, de imprensa desprestigiada, de imprensa que pode até ver calada sua voz, como aconteceu em muitos momentos da história do nosso País.
Então, vamos ao longo desse tempo enfrentar grandes temas. Mas devo dizer, por mais críticas que muitas vezes se façam ao Poder Legislativo, à Câmara dos Deputados, que a dignidade, o tamanho, a estatura pessoal, política, administrativa e moral, a experiência daqueles colegas, homens e mulheres que aqui estão espancarão qualquer dúvida a respeito da eventual inoportunidade de uma medida tomada pela Câmara dos Deputados.
Quero, portanto, mais uma vez, agradecer o apoio, cumprimentar, não o fiz durante a minha fala como candidato, mas, às vezes, os latinos dizem: verba volant, scripta manent - as palavras voam, a escrita permanece.
De modo meus amigos e minhas amigas e V.Exas. hão de compreender que neste momento eu estou mais emocionado do que aquele ainda. Naquele eu estava assustado e emocionado. Neste eu estou assustado e emocionado pela tarefa que vem pela frente. Não quero entrar em detalhes sobre o que vamos ou não fazer porque será extremamente pretensioso. Vamos fazer ou não aquilo que o Plenário desta Casa, pelas suas Lideranças, determinarem ao Presidente da Casa.
Mas quero registrar desde já que nós preservaremos a indenidade, a integridade do Poder Legislativo. O meu sonho é que, ao final deste mandato - coincidindo, aliás, com as eleições ou reeleições que todos nós vamos enfrentar - , eu possa sair daqui, que nós todos possamos sair daqui e passar, entrar em todos os lares e bairros, em todos os campos e recantos, caminhar por todos os caminhos e escaninhos, entrar em qualquer aeroporto, ir ao nosso eleitorado e o nosso eleitorado se dirigir a nós, nos cumprimentar e dizer: Deputado, parabéns pela sua conduta no Poder Legislativo nacional.
Muito obrigado a todos.
Não quero deixar de agradecer também às lideranças partidárias e às bancadas que me apoiaram e pedir a essas lideranças e bancadas que se irmanem com as lideranças e bancadas que não nos apoiaram. Este é, digamos assim, o fecho final daquilo que eu gostaria de dizer.
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