Vapor "Villa Franca" com destaque de seu comandante, o capitão Roque Chacón. Imagem: Acervo Leo Duarte (Posadas, Misiones). - FOTO 1 -
Julio Tomaz Allica, argentino de Bella Vista, dono do vapor "VillaFranca" e proprietário do extinto empreendimento "Puerto Artaza", no distrito rondonense de Porto Mendes. Imagem: Acervo Projeto Memória Rondonense. - FOTO 2 -
Casal de noivos Fernando Pampín. Imagem: Acervo Rádio Sudamericana. -- FOTO 3 -
Nemésio Celestino Parma, suboficial da Prefeitura de Posadas, Misiones, o herói da tragédia do naufrágio. Imagem: Acervo Leo Duarte (Posadas, Misiones). - FOTO 4 -
Familiares e populares aguardando no Porto de Posadas a chegada dos sobreviventes e corpos . Imagem: Acervo Leo Duarte (Posadas, Misiones). - FOTO 5 -
Mansão Pampín-Meabe erguida à Rua 25 de Mayo, na cidade de Corrientes (Argentina). Imagem: Acervo Rádio Sudamericana - FOTO 6 -
Palacete Pampín-Meabe, em imagem recente, sem o seu fausto esplendor na década de 1920. Imagem: Acervo Rádio Sudamericana - FOTO 7 -
Mausoléu de Ana Maria Meabe e Fernando Pampín no Cemitério de San Juan Bautista, na cidade de Corrientes. Imagem: Acervo Rádio Sudamericana (Corrientes - Argentina) - FOTO 8 -
Salão principal da pomposa residência do casal Pampín-Meabe. Imagem: Acervo Rádio Sudamericana. - FOTO 9 -
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O sinistro catastrófico com o vapor “Villa Franca” se conecta com o atual território do município de Marechal Cândido Rondon (PR). O proprietário do navio na época do trágico incidente era o empresário argentino Julio Tomaz Allica, que residia no atual distrito rondonense de Porto Mendes, em seu empreendimento conhecido como “Puerto Artaza", assim nominado em homenagem ao sobrenome de sua mãe: Manuela Artaza.
Este arquivo reúne publicações recentes sobre o incêndio no vapor "Villa Franca", de propriedade de Julio Tomaz Allica. O sinistro, ocorrido em 1922, aniquilou a embarcação, além de provocar a morte de cerca de 40 pessoas, entre passageiros e tripulantes.
A grande tragédia náutica que se verificou no Rio Paraná, às margens paraguaias, foi contada com algumas informações que se diferem de um periódico para outro. Isto é facilmente perceptível na leitura dos diferentes textos.
As publicações aqui reproduzidas foram compiladas, algumas traduzidas, pelo historiógrafo Harto Viteck e, por ele, transcritas para este arquivo. Caso novas publicações a respeito do desastre do "Villa Franca" sejam encontradas, elas serão agregadas ao presente acervo.
1. Tragédia com navio argentino que passaria em Porto Mendes completa 100 anos
Embarcação vinha de Posadas, Argentina, passaria por Porto Mendes e seguiria a Puerto Iguazu, mas teve seu curso interrompido por uma explosão. Cerca de 40 pessoas morreram no desastre, que aconteceu nos tempos áureos das navegações no Rio Paraná.
Há 100 anos e alguns dias, as águas do Rio Paraná foram cenário de uma das maiores tragédias da navegação comercial da região. Cerca de 40 pessoas morreram afogadas ou queimadas após a explosão do navio a vapor Villa Franca (foto 1), que levaria seus passageiros a Porto Aguirre (atualmente Puerto Iguazú) e deixaria trabalhadores em Porto Mendes Gonçalves (hoje Marechal Cândido Rondon).
Para relembrar essa história, a reportagem de O Presente ouviu o coordenador do Projeto Memória Rondonense, historiógrafo Harto Viteck, que revelou detalhes sobre o ocorrido no Alto Paraná, fato que completou seu centenário recentemente.
Navegações no Rio Paraná
O tráfego de embarcações no Rio Paraná começou no século 20 e teve atividade intensa até 1940, quando navios a vapor levavam mercadorias e passageiros. “Grandes vapores faziam o trajeto do antigo Porto Mendes Gonçalves (no atual município de Marechal Rondon) a Posadas ou outras cidades portuárias argentinas ao Sul, ao longo do curso do Rio Paraná, e vice-versa”, conta Viteck, mencionando que muitos acidentes aconteceram nas quatro décadas do auge da atividade, mas nenhuma se compara à tragédia de Villa Franca.
Segundo ele, as navegações no Rio Paraná eram efeito do mercado da erva-mate e da madeira, que enriqueceu empresários da Argentina, Paraguai e Brasil. “Endinheirados e ávidos para potencializar cada vez mais seus negócios, os ricos pretendiam ampliar o extrativismo predatório aos ervais do Paraná, às imensidões no atual Mato Grosso do Sul e do Paraguai”, pontua.
Ciclo econômico da erva-mate
O primeiro soque de erva-mate no Paraná data de 1821 e, instalado em Paranaguá, pertencia ao argentino Francisco de Alzagaray, que exportava o produto para seu país de origem. “Com o mercado em franca expansão no país vizinho e gradativo crescimento no consumo interno, a partir de 1850 foram implantados em Curitiba e região dezenas de moinhos de beneficiamento de erva-mate. Surgia, assim, o ciclo econômico da erva-mate”, enfatiza o historiógrafo.
Com a erva-mate “em alta” e bons ventos para a comercialização de madeiras, empresários estrangeiros instalados em Posadas, Misiones - Argentina, se lançaram numa corrida desenfreada na exploração predatória dos ervais no Alto Paraná e parte Sul do Paraguai. “Sedentos em aumentar seus lucros com o mercado ervateiro-madeireiro e favorecidos pela legislação permissiva federal e estadual, empresários posadeños e da Capital argentina começaram a requerer concessões de áreas de terras no Oeste do Paraná para extração de erva-mate e madeiras de lei”, relembra.
A partir daí, a empresa Nuñez e Gibaja requereu a área do Lopeí, negociando-a posteriormente com Teodoro Amadeo Soldati; Domingo Barthe ganhou concessão na região de Cascavel; a Compañia de Maderas del Alto Paraná dominou a área da Fazenda Britânia; e a Cia. Matte Larangeira recebeu em concessão a margem esquerda do Rio Paraná, de Guaíra a Porto Mendes. “A exceção foi o empresário Julio Tomaz Allica (foto 2), que requereu duas áreas de terras de pequeno tamanho, sendo uma à margem do Rio Paraná, onde instalou a sede de seu empreendimento ‘Puerto Artaza’ e local da residência principal, e outra às margens do Rio Piquiri, mediante o compromisso de tornar carroçável o caminho da foz do Rio São Francisco até o Rio Piquiri”, expõe Viteck.
Da erva-mate à navegação
Os negócios com erva-mate e madeira se tornaram tão prósperos que alguns dos empresários investiram em grandes vapores para o transporte de passageiros e cargas, além da erva-mate cancheada, que ia para os moinhos de beneficiamento na Argentina, via Rio Paraná. “O empresário Domingo Barthe, francês imigrado para Posadas, teve mais de uma dezena de vapores navegando em águas do Rio Paraguai e do Rio Paraná. O navio ‘Espanha’, da firma Nuñez y Gibaja, foi a primeira grande embarcação que navegou o Rio Paraná acima de Tacurú Pucú, hoje Hernandarias, Paraguai, até o ponto máximo de navegabilidade possível, sem correr riscos, antes das Sete Quedas, o extinto Porto Mendes Gonçalves”, detalha.
Alta sociedade a bordo
Empresário que apostou no Oeste, Allica possuía um navio a vapor de 126 toneladas, com muito luxo a bordo da primeira classe, chamado de Villa Franca. “A embarcação saiu do Porto de Posadas no começo da tarde do dia 03 de junho de 1922, um sábado, levando passageiros de famílias tradicionais de Corrientes e de Posadas, com destino ao Porto Aguirre (hoje Puerto Iguazú), para conhecerem as Cataratas do Iguaçu e serem os primeiros hóspedes do Hotel das Cataratas, do lado argentino. Entre os turistas estava o casal Fernando Pampín e Ana María Meabe (foto 3), filhos das famílias mais ricas de Corrientes, que comemoravam a lua de mel. Na companhia dos recém-casados estavam duas meninas, uma irmã da noiva e outra sobrinha”, conta.
A bordo do Villa Franca estavam 30 tripulantes e cerca de 120 passageiros, entre turistas viajando na 1ª classe e trabalhadores na 2ª classe que, certamente, tinham como destino o empreendimento de Allica. No comando da embarcação estava o experiente capitão Roque Chácon. “De Posadas, o Villa Franca atravessou o Rio Paraná até o Porto de Encarnación, no Paraguai, para embarcar mais passageiros e iniciar a viagem para Porto Mendes Gonçalves. No trajeto, havia várias paradas previstas para subida ou descida de passageiros e carregamento ou descarregamento de mercadorias. A viagem seguia tranquila”, relata Viteck, que realizou pesquisas sobre o fato histórico.
Incidente na madrugada
Cerca de 90 quilômetros além do ponto de partida, por volta da meia-noite, o Villa Franca fundeou próximo a Honenau, Paraguai, para carregar bolsas de milho enquanto os passageiros dormiam em suas cabines (ou alojamento, no caso dos trabalhadores). “Sentindo forte cheiro de gasolina, um dos sentinelas do navio tomou, displicentemente, uma lâmpada e foi até o compartimento da embarcação, onde se encontravam armazenados dezenas de tambores do combustível com um volume aproximado de 10,2 mil litros, destinados ao Hotel das Cataratas”, menciona o historiógrafo.
Tão logo houve o contato da chama da lamparina com o vapor da gasolina, o fogo explodiu e desencadeou uma situação de desespero entre os tripulantes. “A maioria dos viajantes conseguiu se salvar, com uso de boias salva-vidas. Neste cenário de pânico, entrou em cena a figura de Nemesio Celestino Parma (foto 4), um suboficial da Prefeitura de Posadas que seguia com o Villa Franca para fazer o controle de embarque e desembarque de passageiros. Diante do quadro de caos no vapor, Parma tomou para si a organização da evacuação e salvamento, ajudando pessoas a chegarem em terra”, aponta o rondonense.
Herói em alto mar
Viteck conta que Parma, inclusive, deu seu próprio salva-vidas para uma senhora alcançar a margem. “Quando retornava ao navio em busca de mais passageiros, no entanto, aconteceu a grande explosão, que partiu a embarcação ao meio e fez as águas do Paraná arderam em fogo com a gasolina que se espalhou na superfície. O estouro aconteceu por volta das 01h30 da madrugada e causou a morte por queimaduras ou afogamentos de cerca de 40 pessoas, entre elas o casal de noivos, as acompanhantes da noiva e o próprio Nemesio Parma”, comenta.
Em reconhecimento ao heroísmo do suboficial, a cidade de Posadas homenageou Nemesio Parma dando o seu nome a um bairro próximo ao aeroporto da cidade. “A Marinha argentina concedeu pensão vitalícia à viúva para não ficar na indigência. O proprietário do navio não estava a bordo, mas sentiu as consequências da tragédia. Além da perda do navio, revoltosos paulistas bombardearam as instalações do empresário argentino em Puerto Artaza. Allica foi atingindo por duros golpes em seu próspero negócio de ervateiro independente, dos quais nunca conseguiu se recuperar 100%”, informa o historiógrafo.
Centenário da tragédia
“Mesmo passados 100 anos, a tragédia com o Villa Franca continua viva entre as famílias de Posadas e Corrientes, que perderam seus entes queridos nessa catástrofe sem precedentes no Alto Paraná”, ressalta Viteck.
Após 1940, a navegação no Rio Paraná foi perdendo a popularidade, uma vez que o ciclo da erva-mate foi substituído por plantações em larga escala (na Argentina) e pela abertura de estradas.
¹ Na verdade, o trajeto Puerto Iguazú até Porto Mendes.
(O Presente. Disponível em: https://www.opresente.com.br/marechal-candido-rondon/tragedia-com-navio-argentino-que-passaria-em-porto-mendes-completa-100-anos/
2. O historiador misionero doutor Alberto Daniel Alcaraz¹ reporta-se ao incidente no caudaloso rio, transcrevendo parte do destaque do jornal “El Território”, de Posadas, na edição de 05 de junho de 1993:
“O Villa Franca de 126 toneladas de capacidade zarpou a meia manhã de 04 de junho de 1922 do porto de Posadas com destino ao porto Mendes, Brasil, com diversas escalas previstas no trajeto. No comando da nave encontrava-se o capitão Roque Chacón, com larga experiência na navegação fluvial. Embarcaram 34 homens de primeira classe (comerciantes, industriais, obrajeiros e turistas) e 64 de segunda classe, com mensúes, correntinos, paraguaios com seus familiares (...) o carregamento consistia de 100 tambores de 200 litros de gasolina cada um, acondicionados no último compartimento da proa.
De Posadas, a embarcação se dirigiu a Encarnación, onde subiram mais passageiros e continuou posteriormente navegando águas acima. À meia-noite chegou em frente a Hohenau e ancorou num remanso de média profundidade, a uns 50 metros da margem, permitindo o acesso de barcos com carregamento de bolsas de milho.
Os passageiros se encontravam dormindo quando a 1:30 desencadeou-se uma série de explosões e a gasolina derramada a bordo gerou chamas que em poucos instantes envolveram a embarcação”.
Alcaraz registra que “este incidente retrata de alguma maneira a precariedade com a qual deviam conviver os passageiros que navegavam pelo Alto Paraná. De nenhuma forma as empresas, donas das embarcações, primavam pelo bem-estar dos passageiros, mas sim, realizar pouco investimento para um obter um elevado retorno financeiro. Segundo observadores da época, como Elias Niklison, as empresas poderiam melhorar em muito este serviço, entretanto nenhuma legislação obrigava-as legalmente” (in: La Navegación en el Alto Paraná (1880-1920). 1ª edição. Posadas: EdUNaM - Editorial Universitaria de La Universidad Nacional de Misiones, 2010).
¹ Professor titular de História da Universidade Nacional de Misiones, com doutorado em Antropologia Cultural, e ainda autor dos livros "La Empresa Domingo Barthe - Extractivismo Yerbateiro-Madeireo em La Frontera Alto Paranaense (187-1930)" e "Una Etnografia de Las Élites del Alto Paraná Durante La Explotación Yerbateira-Maderea 1870-1930".
3. A tragédia do Villa Franca e o herói posadeño Parma
Entre as últimas horas do dia 04 de junho e as primeiras horas do dia 05 de junho de 1922, foi sem dúvida o marco de uma das maiores tragédias ocorridas na navegação (provalmente no Rio Paraná, grifo nosso).
Supreendentemente, por volta das 1:20 horas daquela madrugada, foi declarado um incêndio no vapor de passageiros e carga "Villa Franca". A embarcação se encontrava navegando pelo Alto Paraná, com previsão de atracar em vários portos ao longo do rio.
Por ordem superior acompanhvar a viagem do navio, 2º ajudante (hoje oficial principal) don Nemesio Celestino Parma e o marinheiro de 1ª classe, don Simon Ramírez.
Com o fogo cada vez tomando proporções maiores, o momento exigia a tomada de posição firme e efetiva, quando o vaopor navegava próximo ao porto paragauio de Hohenau. Tanto Parma como Ramírez encontravam-se descansando em suas cabines naquela hora, quando foram acordados pelos gritos de socorrro dos passageiros e pela sirene de alerta.
Parma ao ver o caos estabelecido a bordo e ausência de iniciativas e ordens para organizar a evacuação, tomou a si junto com o marinheiro Ramírez a operação de salvamento. A desordem e o desesperado a bordo eram tamanhas, que Parma teve que fazer disparos para ar com seu revólver, para conter a disputa entre tripulantes e passageiros para alcançar os botes salva-vidas.
Com a situação sob seu controle, Parma começou a realizar o embarque de passageiros e levá-los até à margem do rio. Enquanto o fogo tomava cada vez mais imponência e se acercava da cobertura do navio. Vários passageiros, na ânsia de salvar-se, lançavam-se às águas para ganhar terra firme. O próprio Parma cedeu seu salva-vidas para uma senhora e a ajudou nadando até trazê-la a salvo, retornando imediamente convés do vapor.
Justamente na hora se deu a enorme explosão quando as chamas atingiram os tambores de combustível que eram parte da carga transportada pela embarcação. Com o poder da explosão, o Villa Franca se partiu em dois e rapidamente afundou nas águas douradas do Rio Paraná. Tanto Parma como o 1º marinheiro Ramírez e o comissãrio de bordo Bénitez e vários tripulantes e passageiros desapareceram junto com a nave.
O então chefe da Subprefeitura (da Marinha, grifo nosso) de Posadas, ao dar conhecimento do ocorrido, transmitiu aos seus superiores, por meio de um telegrama, a seguinte informação: "Em 04 de junho de 1922, sendo 1:20 horas, se declarou um incêndio a bordo do vapor "Villa Franca" e o oficial Parma tomou a seu cargo a tarefa de salvamento de passageiros e tripulação, com a colaboração do marinheiros Ramírez, e ambos despareceram ao explodirem os tanques de combustível que eram parte do carregamento".
A trágica morte de estes dois servidores públicos ficou gravada na memória de quem veste com orgulho o uniforme de nossa Instituição, recordando a temeridade e a renúncia de quem deu a sua vida em favor dos semelhantes.
Os diários da época enalteceram a atitudes dos dois homens da Prefeitura (da Marinha, grifo nosso), especialmente Parma já que com seu gesto de supremo valor e esgotados os dispositivos de salvamento a bordo, conduziu até à margem do rio vários naufragos, os quais se debatiam quase sem forças, para ganhar terra firme, antes de encontrar a sua morte.
O diário "El Nacional" de Posadas, em sua edição de 04 de agosto de 1922, veio a referir-se: "O herói do "Villa Franca deixa uma casa, que além de sofrer a perda de seu chefe, onde são esperadas dias de miséria e desolação, ao tempo em que espera a justa reparação pública, pois ainda não seu deu o auxílio devido".
A resposta ao apelo do periódico, a Escola Nacional de Chamaico demonstrou o primeiro gesto de solidariedade, mesmo modesta, no entanto de grande significado moral. A esta ação, seguiu-se a iniciativa do deputado federal doutor Roberto M. Ortiz que apresentou proposta de apoio à família, com a adesão de muitas unidades corporativas da Liga Patriótica, somada a decisão da Caixa Mútua da Prefeitura Geral Marítima.
Como se tem referenciado o mencionado periódico, em sua edição de 22 de julho de 1922, o El Nacional informa que a Caixa Mutual (hoje Associação Mútua da Prefeitura Naval Argentina) arrecadou recursos para perpetuar a memória de Parma e prestar assistência a sua esposa, dona Petrona Cano e os seus dois filhos: Dora de 10 anos e José de 7, que tinham ficado na indigência.
Cabe assinalar que com a soma arrecada foi possível comprar duas casa em Posadas, as quais foram entregues à esposa de Parma em 26 de agosto de 1923, ao tempo em que foi erigido um monumento junto à sua sepultura, em 11 de junho de 1924, no cemitério La Piedad de Posadas. Hoje um bairro de Posadas leva o seu nome, um tributo a este herói.
Texto de Leo Duarte (Posadas, Misiones) publicado na página de "Posadas del Ayer" no Facebook, em 05 de junho de 2022. Tradução livre do espanhol por Harto Viteck.
4. O incêndio no vapor e a noiva eterna
Por Francisco Villagrán - Opinião especial para Litoral
Uma verdadeira tragédia naútica ocorreu em 04 de junho de 1922 quando conhecidas e destacadas pessoas da sociedade correntina da época, Fernando Pampín e as irmãs Ana Maria e Maria Celestina Meabe, morreram em um terrível incêndio ocorrido com o vapor "Villa Franca" no Rio Paraná, quando se dirigia às Cataratas do Iguaçu. Entre os passageiros viajavam os recém casados Ana Maria Reguera e Fernando Pampín, a irmã Ana Maria, Celestina, ambas filhas do conhecido estancieiro Ernesto Meabe e sua esposa Ana Reguera.
O casal tinha mandado construir uma casa, uma suntuosa residência (foto 6), especialmente para os noivos. A mansão nunca chegou a ser habitada porque a tragédia desfez os sonhos de Fernando e Ana Maria. A grande edificação abrigou ultimamente o Sanatório Litoral, a rua 25 de Mayo, entre a La Roja e San Juan, e nunca foi usada como residência familiar. Contam que a casa deixa ver, de vez em quando, a figura fantasma de uma mulher recém casada, que muitos denominam de "a noiva eterna".
A desaventurança abalou a sociedade correntina e especialmente o matrimônio Pampín-Meabe, porque foi uma das grandes tragédias que enlutou a história de Corrientes, somada a epidemia de febra amarela. A celebração do casamento de Fernando e Ana Maria se deu na igreja de La Merced, seguida de pomposa festa oferecida pelos pais.
O casal de noivos dormiu a noite de núpcias na quinta Pampín nas adjacências da cidade de Corrientes, a caminho do hipódromo.
A superstição popular diz que casamentos celebrados em dias de chuvas trazem desgraças aos nubentes, e justamente no dia de casamento de Fernando e Ana Maria ocorreram intensas precipitações. A este, ainda, se soma outro fato premonitório: os recém casados descobriram com surpresa que ao chegar à quinta Pampín que tinham levado erroneamente as chaves do jazigo da família. Em função disso, eles tiveram que forçar a porta para entrar. Um trágico augúrio que se cumpriu ao pé da letra.
Depois da festa e passar a primeira noite na quinta, Fernando Pampín e sua formosa esposa viajaram até Posadas com o vapor de carreira, para tomar o "Villa Franca", na companhia das meninas Maria Celestina Meabre Reguera e Maria Lucia Meabe de Madariaga, irmã e prima, respectivamente, da recém casada. De Posadas, o "Villa Franca" devia prosseguir até o Hotel Cataratas. O navio zarpou de Posadas no sábado 3 de junho, às 13 horas, levando 120 passageiros, entre estes, muitas crianças, nas 1ª e 2ª classes, 30 tripulantes e um expressivo carregamento de gasolina para o mencionado hotel. Navegava tranquilamente todo o dia 03 de junho, sem problemas, enquanto os passageiros se divertiam apreciando a paisagem.
Por volta da meia noite, a maioria dos passageiros haviam se recolhido aos seus camarotes e ao redor de uma da madrugada desse infausto domingo 4 de junho de 1922, aconteceu a tragédia. Parece que um marinheiro tinha visto que do porão do navio saia fumaça e decidiu averiguar se, de fato, isso era real; tomou uma lamparina e adentrou ao porão, o que deu início ao incêndio fatal. O terror que se instalou a bordo foi fazendo que mães com os filhos nos braças se jogassem na água buscando salvamento.
O fogo não só queimava na embarcação mas também em torno da mesma com a gasolina derramada na superfície da água, formando um verdadeiro círculo de chamas. O que impossibilitava em salvar-se mesmo aqueles que sabiam nadar.
Enquanto o vapor afundava, somente sobreviveram aqueles que, com muita sorte e nadando debaixo da superfície em chamas, conseguiram escapar do espetáculo dantesco. Fernando Pampín, que era um excelente nadador, poderia ter se salvado, porém no afã de salvar sua família, pereceu na tragédia junto com a esposa e familiares.
A notícia terrível do trágico acontecimento informava que havia 70 vítimas fatais no incêndio, entre os quais se encontrava o casal Pampín-Meabe. Em toda a região a notícia correu rapidamente, produzindo angústia e consternação em face do sucedido. Desde Posadas partiram em uma lancha do Governo os restos mortais do novo casal e na altura de Paso de La Patria se juntaram outros barcos nos quais iam familiares das vítimas.
O diário "El Liberal" convidava o povo, em suas páginas, a se reunir no porto para receber os corpos das vítimas. Praticamente toda a cidade estava em luto: instituições, clubes, escolas, comércio e escolas, e cerca de cinco mil pessoas estiveram no porto esperando os corpos, para depois acompanhá-los até a igreja de La Merced e em seguida ao cemitério, onde foram sepultadas diante do pesar geral.
Assinalam as crônicas da época que nunca houve em Corrientes uma demonstração maior de pesar coletivo que a da tragédia do "Villa Franca". Teve uma mulher completamente tomada pela amargura e dor, doña Ana Reguera de Meabe, já que não tinha perdido somente a filha recém casada e seu genro, também a sua outra filha solteira. No entanto, suportou a enorme desgraça com resignação cristã.
Desde então a casa que foi construída para o novo casal, não foi usada como morada familiar, mas para outras finalidades, entre elas de servir do Sanatório del Litoral. Asseguram vizinhos e circunstâncias testemunhas que mais de uma vez foi vista a figura da noiva enlutada passeando pelos corredores e na parte superior da edificação, inclusive transpassando as paredes e saindo pela atual rua La Rioja. Desta maneira se originou a história da "noiva eterna" que ainda persiste em nossa cidade. Outros tantos casos de fantasmas que em nosso meio dão espaço para falar e pensar. (Tradução livre do espanhol por Harto Viteck).
Para ler o original, clique aqui.
5. RADIO SUDAMERICANA
SÁBADO 04 DE JUNIO DE 2022 - ACTUALIZADA A LAS: 18:01hs. DEL 04-06-2022
Um casamento e um casa embruxada
100 Anos do casamento e tragédia da família Pampín
Em 04 de junho de 1922 completaram-se 100 anos de uma tragédia náutica que enlutou a sociedade de Corrientes, na Argentina: as mortes de Fernando Pampín, Ana Maria Meabe, uma irmã e prima dela.
Essas mortes estão rodeadas de vários presságios e deram origem a uma lenda em torno da casa que se encontra à Rua 25 de Mayo, que jamais foi usada como moradia.
O historiador Fernando Gonzáles Ascoaga registra que a história é bem conhecida (mesmo que tenha sido profusamente manipulada como lenda urbana), e vem se perpetuando de geração em geração como "a tragédia do Villa Franca”. Este era o nome da embarcação no qual morreram as três mulheres queimadas e ele, afogado. A embarcação se incendiou em plena madrugada e, devido o combustível que transportava, se alastrou e ardeu por várias horas.
Aquele episódio, que marcou para sempre o destino de duas famílias conhecidas correntinhas – os Meabe e os Pampín –, se converteria praticamente numa composição poética do drama que se identifica para sempre com um período e um setor social elitista da cidade de Corrientes. Essa composição haveria de perdurar no tempo – através de relatos oral, escrito e filmado –, como ícone urbano e também um marco funerário.
Tudo começou em abril de 1922. No primeiro dia de abril daquele ano se casaram Ana Maria Meabe e Fernando Pampín, jovens integrantes de suas conspícuas famílias de renome. Dizem as crônicas que aquele dia amanheceu chovendo, mal presságio para um casamento. A celebração do matrimônio se deu na Igreja de La Merced, e a festa na casa dos Meabe. No trajeto entre a igreja e o local da recepção, o novo casal passou em frente do que seria sua futura residência (foto 6), a mansão erguida à Rua 25 de Mayo, entre La Rioja e San Juan.
Especialmente construída para eles, o destino quis que o casal jamais ocupasse o faustioso palacete que, depois ao largo de um século, foi sede de um clube, de um hotel, de um hospital e também um centro cultural. Com o passar do tempo, a edificação (foto 7) tem perdido o seu encanto.
Naquela noite, depois da recepção os noivos se dirigiram à quinta dos Pampín, ao oeste da Rua Ayacucho, região onde foi instalado o hipódromo General San Martin. Mesmo com a previsão de uma viagem de lua de mel à Europa, os noivos optaram por passar antes nas Cataratas do Iguaçu. Assim partiram, para nunca chegar.
Fernando Pampín e sua esposa viajaram até Posadas em vapor de linha, na companhia das meninas Maria Celentina Meabe Reguera e Maria Lucia Meabe de Madariaga (irmã e prima, respectivamente, de Ana, recém-casada). Em Posadas, embarcaram no vapor "Villa Franca". Zarparam às 13 horas de sábado 03 de junho de 1922. À meia-noite, se desencadeou o incêndio no navio, que afundou na madrugada.
Conta a crônica que Fernando Pampín tentou resgatar as mulheres na água, sem conseguir, porque acabou também perecendo. Elas morreram com sinais de queimaduras e ele, afogado. Ana e Fernando descansam num mausoléu (foto 8) que a família mandou erigir especialmente no Cemitério San Juan Bautista.
A mansão da Rua 25 de Mayo nunca abrigou o jovem casal. No entanto, se converteu em um monumento extraordinário, que vai além de sua arquitetura. O casamento de Ana Maria e Fernando foi um grande acontecimento para a época, que exigiu uma longa preparação, como exigia a elite social. Para isso, foi levado a efeito a construção de uma fabulosa mansão à rua citada, com dezenas de acomodações e espaços de serviços, junto com uma estupenda escadaria que alcançava o salão principal (foto 9).
Por causa da tragédia, esta mansão nunca se transformou num lar. Mas sim, foi sede do Club del Progreso, logo depois do Hotel Savoy e depois o Sanatório del Litoral. Dizem, que está povoada de fantasmas. O historiador conta que "para ser uma propriedade familiar, era um palácio" com arquitetura europeia e "rompia a tradição do pátio quadrado onde todos os quartos convergem para um salão principal".
"Todos os Fernandos da família Pampín morreram", recorda o historiador, que informa que isso se sucedeu por três gerações. Ademais, a chuva copiosa durante o casamento alude a outro mau augúrio. Quando foram descansar na casa da família à Rua Ayacucho, em vez de levarem as chaves da propriedade, os noivos se equivocaram e levaram as chaves do mausoléu da família.
Sobre os fantasmas na casa, apontou o historiador que "a lenda urbana teceu uniões pela dor da tragédia daquela época, já que a noiva nunca morou em sua mansão". (Tradução livre do espanhol feita por Harto Viteck).
Para ler o texto no original, clique aqui.
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6. Catastrophe no Rio Paraná — O naufragio do vapor "Villa Franca".
Morreram 70 e tantas pessoas
Como noticiámos ha dias ligeiramente, deu-se no rio Parana, no trecho comprehendido entre Posadas e Foz do Iguassu' um horrivel naufragio que causou a morte de inumeras pessoas.
Navegava o vapor "Villa Franca" em demanda de Porto Mendes quando na noite de 3 para 4 do corrente, se declarou violento incendio a bordo, devido á explosão de varias caixas de gazolina, substancia essencialmente explosivel, que constituia grande parte do carregamento do vapor.
Viajavam no "Villa Franca" 110 pessoas entre tripulantes e passageiros. Logo nos primeiros momentos que succederam á explosão, estabeleceu-se grande panico a bordo, seguindo-se o incendio do vapor ao mesmo tempo que submergia, até ficar somente com o chaminé fóra d'agua, e parte do tombadilho.
Ainda não se sabe ao certo, o numero de mortos, que parece atingir a 70.
Nessse vapor viajava o professor Kemerer, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos e que a custo se salvou do sinistro.
Também viajavam o sr. José Werner, residente na Foz do Iguassu', e que tendo terminado o serviço militar no 5º Batalhão de Engenharia, onde era cabo, regressava a Curityba, para a casa de seus paes.
José descera até Uruguaiana por via ferrea passando por Cruz Alta, onde alccára a um seu irmão de nome Jorge e uma sua irmã Elfrida, de 14 anos, que naquela cidade encontrava-se cursando uma escola.
A menina Elfrida pereceu nesse desastre, não sendo possível a seus irmãos salvarem_n'a.
O sr. José Werner foi salvo gravemente ferido, tendo sido levado para o hospital de Posadas.
O comandante do vapor sr. Chacon e um guarda alfandegario de nome Nemesio, que morreu em consequencia dos ferimentos recebidos salvando mulheres e creanças, foram de incomparável heroismo.
O referido vapor pertencia ao sr. Julio Allica, residente no município paranaense de Foz do Iguassu' (sic) (O Combate. São Paulo: Anno VIII, nº 2112, ed. 17 de junho de 1922, p. 1 — Biblioteca Nacional Digital).
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