Cidade de Foz do Iguaçu na década de 1940. Imagem: Acervo Marcos Correia
Casamento de Marten e Martha pais* e irmãos em Cruz Machado/PR, de onde vieram em 1928. Imigrantes humildes e trabalhadores Imagem: Acervo e legenda de Marcos Kidricki Iwamoto: Foz do Iguaçu e Cataratas Memórias e Fotos Atuais/ Facebook, em 08 de maio de 2022. * Janetje e Jan Nieuwenhoff.
À esquerda Gertrudes, a filha mais velha, a mãe Martha, a irmã Marta, Franz, Marten, Janete e o tio Francisco, em uma ponte de madeira sob o riacho Carimã, em Foz do Iguaçu. Imagem: Acervo e legenda de Marcos Kidricki Iwamoto: Foz do Iguaçu e Cataratas Memórias e Fotos Atuais/ Facebook, em 08 de maio de 2022. * Marten é filho do casal imigrante
Martha com os filhos Franz, Marta, Elisabete, Margarida, e as gêmeas Guilhermina e Rosina. Imagem: Acervo e legenda de Marcos Kidricki Iwamoto: Foz do Iguaçu e Cataratas Memórias e Fotos Atuais/ Facebook, em 08 de maio de 2022.
Estaleiro em Amsterdam na Holanda, onde Marten Niewenhoff trabalhou na juventude, antes de imigrar para o Brasil. Imagem: Acervo e legenda de Marcos Kidricki Iwamoto: Foz do Iguaçu e Cataratas Memórias e Fotos Atuais/ Facebook, em 08 de maio de 2022.
A carroça que servia ao transporte da família. Inclusive, quando precisaram ir a Guarapuava, devido a restrição aos imigrantes alemães durante a Segunda Guerra Mundial, na cidade de Foz do Iguaçu. Imagem: Acervo e legenda de Marcos Kidricki Iwamoto: Foz do Iguaçu e Cataratas Memórias e Fotos Atuais/ Facebook, em 08 de maio de 2022.
A casa do Carimã, construída pelo Sr. Marten Nieuwenhoff nos anos 40, uma mansão a época. Nas janelas, as meninas, filhas, fazem pose. Imagem: Acervo e legenda de Marcos Kidricki Iwamoto: Foz do Iguaçu e Cataratas Memórias e Fotos Atuais/ Facebook, em 08 de maio de 2022.
A Escola Isolada do Carimã, a primeira fora do centro de Foz do Iguaçu. Era um antigo curtume, que se transformou em escola graças ao esforço de famílias pioneiras. Mais tarde, construíram uma sede mais apropriada no terreno doado pelo Sr. Marten. Nessa época, usavam um giz feito de mandioca seca. Imagem: Acervo e legenda de Marcos Kidricki Iwamoto: Foz do Iguaçu e Cataratas Memórias e Fotos Atuais/ Facebook, em 08 de maio de 2022.
1ª primeira comunhão no Carimã (1939). Guilhermina é a primeira a esquerda com o cabelo esvoaçado e a Rosina é a quinta. Ela ganhou de presente uma enxada. Imagem: Acervo e legenda de Marcos Kidricki Iwamoto: Foz do Iguaçu e Cataratas Memórias e Fotos Atuais/ Facebook, em 08 de maio de 2022. * Guilhermina e Rosina são filhas gêmeas do casal Martha e Marten
Em 1911, o casal Johanne Taube e Hermann Franz e outras famílias conterrâneas da região do Halle, Alemanha, movidos por grandes esperanças, depois de conhecerem a pregação propagandista, decidiram imigrar ao Brasil para mudarem de vida.
Juntaram os poucos pertences e se encaminharam à cidade portuária de Amsterdam para tomarem o navio que os levariam ao outro lado do Atlântico. Alguns contrataram carroceiros para levá-los até o porto. Outros, em situação menos favorável, foram a pé.
No porto holandês, juntou-se ao grupo de alemães o casal local Janetje e Jan Niewenhoff, entre outras famílias. Todos embarcaram no navio Frísia e chegaram ao Brasil em 1912.
A professora iguaçuense Elizabeth Neumann é neta dos casais de imigrantes Raube e Niewenhoof e nascida às margens do Rio Carimã, local próximo do hotel de mesmo nome na Rodovia das Cataratas, em Foz do Iguaçu. Hoje radicada em Curitiba, ela relata que: “Depois de uma viagem terrível e em condições precárias, eles chegaram ao Brasil. Alguns até morreram no percurso. Ao chegarem, foram enviados para o Paraná” (NEUMANN, 2005, p. 8).
NO SUL DO ESTADO
Enquanto aguardavam para serem encaminhados para algum projeto de colonização, os imigrantes ficaram alojados em Curitiba em precários e infestados galpões de chão batido. Nos barracões, verdadeiros moquifos, sem qualquer assistência à saúde, as famílias se viram às voltas com piolhos, bichos-de-pé e outras pragas que desconheciam.
As doenças e infecções se generalizaram. Muitos males sobrevieram pela péssima alimentação servida nos alojamentos.
O encaminhamento para o destino final foi uma longa espera para alemães e holandeses. Motivo: a lerdeza dos serviços burocráticos e as constantes procrastinações das autoridades governamentais em decidir para qual região seriam alocados.
Depois de semanas de expectativas, finalmente os imigrantes foram direcionados a Cruz Machado, na época uma região pouco povoada e de difícil acesso e comunicação.
Considerando a curta permanência das famílias no lugar, percebe-se que as condições encontradas no sul do Estado não foram favoráveis aos colonos. Segundo a professora Neumann, as sucessivas dificuldades vividas em Cruz Machado, por mais de uma década, motivaram a mudança delas.
A CAMINHO DE FOZ
A notícia de que o Governo do Estado estava distribuindo terras devolutas nas cercanias da cidade de Foz do Iguaçu entusiasmou os imigrantes alemães do Halle, assentados em Cruz Machado, e algumas famílias vizinhas, a transferir morada à Tríplice Fronteira, em 1928. Uma viagem penosa, feita em carroças e animais de carga, ao longo de várias semanas.
Como bons produtores rurais, os novos moradores foram bem recebidos pela população de Foz do Iguaçu. A cidade era carente de gente na produção de alimentos campesinos. Os recém-chegados ganharam áreas de terra nas atuais vilas de Carimã e Yolanda.
A COOPERATIVA
A falta de estrutura básica em Foz do Iguaçu era uma rotina diária para a população do lugar e agora também aos recém-chegados. Para suprir a deficiência na saúde, no comércio, cultura e religião, de forma solidária os alemães, holandeses e outros migrados à Tríplice Fronteira se organizaram numa cooperativa, a “Bauernverein”.
A primeira diretoria da associação era integrada pelos pioneiros das famílias Welter, Colombelli, Weirich, Niewenhoff, Boyarski e Kercklek. “Na associação eram tratados interesses rurais, ajuda aos necessitados e, festas de Natal, bailes, reuniões em geral”. (Ibidem).
A distância e as dificuldades de acesso ao comércio e interesses culturais com as outras cidades brasileiras mantiveram por longo tempo Foz do Iguaçu fortemente ligada a Porto Aguirre, agora Puerto Iguazzú, no lado argentino.
“Naquela época, nosso contato maior era com a Argentina. As comunicações e o comércio com as cidades brasileiras, quase impossíveis, em virtude das estradas intransitáveis, tornavam Porte Aguirre, hoje Puerto Iguazú, o local para suprir nossas necessidades de mantimentos de compra e venda de produtos agrícolas” (Ibidem, p. 16).
A GUERRA
Com a adesão brasileira aos Aliados na II Guerra Mundial, o Brasil tornou-se inimigo da Frente do Eixo, formado pela Alemanha, Itália e Japão. Essa formalidade atingiu em cheio os três grupos étnicos fixados no Brasil.
A política getulista, doravante, foi de manter vigilância permanente sobre alemães, italianos e japoneses, proibindo a fala, a educação dos filhos, o acesso à literatura e a prática religiosa em suas línguas maternas
O único jornal impresso na língua da pátria-mãe os alemães adquiriam em Porto Aguirre. “Quando o Brasil declarou guerra contra a Alemanha, as coisas se tornaram muito tensas. O jornal foi proibido, porém meu pai continuou a trazê-lo da Argentina, para a própria leitura e para alguns vizinhos lerem”. (Ibidem).
A vigilância, que já era intensa sobre os alemães na fronteira, a partir da apreensão de um exemplar do periódico alemão na residência da família Niewenhoff tornou-se ostensiva e abusiva.
Além da prisão do pioneiro, foram detidos os dirigentes da cooperativa e vários chefes de família, sob alegação de estarem fomentando o nazismo e propagando a doutrina nazista.
Amedrontada e temendo pelas suas vidas e a de familiares, a maioria das famílias alemãs da cidade de Foz do Iguaçu se refugiou na região central do Estado. Os imigrantes subiram em suas carroças e partiram ameaçados por policiais bem armados.
Conforme relata José A. Colodel:
“Por determinação do Ministério da Guerra, todos os colonos imigrantes foram reunidos em Foz e depois seguiram viagem para lugares distantes. Levaram 30 dias e 30 noites para ir de Foz do Iguaçu a Pitanga (...). Eles foram de carroça de boi, comendo ‘apepu’ (laranja silvestre, bastante amarga e azeda) e pinhão, dormiam debaixo da carroça” (apud PIMENTEL, 2005).
A família Neumann foi para Guarapuava, onde chegou após 28 dias de jornada. O exílio da família durou até 1945, com a derrota e rendição das tropas lideradas por Adolf Hitler.
Desta vez, a matriarca com as filhas e mais a família italiana Nadai fizeram a viagem de retorno de caminhão, com parte da mudança. Chegaram a Foz do Iguaçu após dois dias. O pai e um filho fizeram o percurso de carroça, levando o restante dos pertences. Foram necessárias duas semanas para fazer o trajeto.
Com o fim do grande conflito, a maior parte dos refugiados voltou à Tríplice Fronteira e reocupou suas propriedades. Seus descendentes estão hoje forte e pacificamente integrados na comunidade local.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
NEUMANN, Elizabeth. Filha de Imigrantes. Curitiba: obra não publicada (apostila), 2005.
PIMENTEL, Ronildo. Memória: a saga de alemães e holandeses na fronteira. Boca Maldita, 02 de marco de 2012. Disponível em: www.bocamaldita.com/memoria-a-saga-de-alemaes-e-holandeses-na-fronteira. Acesso em: 13 de maio de 2016.
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