Os Primeiros Alemães e Holandeses em Foz do Iguaçu

09 de Maio de 2017

     

         Em 1911, o casal Johanne Taube e Hermann Franz e outras famílias conterrâneas da região do Halle, Alemanha, movidos por grandes esperanças, depois de conhecerem a pregação propagandista, decidiram imigrar ao Brasil para mudarem de vida.

         Juntaram os poucos pertences e se encaminharam à cidade portuária de Amsterdam para tomarem o navio que os levariam ao outro lado do Atlântico. Alguns contrataram carroceiros para levá-los até o porto. Outros, em situação menos favorável, foram a pé.

        No porto holandês, juntou-se ao grupo de alemães o casal local Janetje e Jan Niewenhoff, entre outras famílias. Todos embarcaram no navio Frísia e chegaram ao Brasil em 1912.

        A professora iguaçuense Elizabeth Neumann é neta dos casais de imigrantes Raube e Niewenhoof e nascida às margens do Rio Carimã, local próximo do hotel de mesmo nome na Rodovia das Cataratas, em Foz do Iguaçu. Hoje radicada em Curitiba, ela relata que: “Depois de uma viagem terrível e em condições precárias, eles chegaram ao Brasil. Alguns até morreram no percurso. Ao chegarem, foram enviados para o Paraná” (NEUMANN, 2005, p. 8).
 

        NO SUL DO ESTADO

        Enquanto aguardavam para serem encaminhados para algum projeto de colonização, os imigrantes ficaram alojados em Curitiba em precários e infestados galpões de chão batido. Nos barracões, verdadeiros moquifos, sem qualquer assistência à saúde, as famílias se viram às voltas com piolhos, bichos-de-pé e outras pragas que desconheciam.

        As doenças e infecções se generalizaram. Muitos males sobrevieram pela péssima alimentação servida nos alojamentos.

        O encaminhamento para o destino final foi uma longa espera para alemães e holandeses. Motivo: a lerdeza dos serviços burocráticos e as constantes procrastinações das autoridades governamentais em decidir para qual região seriam alocados.

        Depois de semanas de expectativas, finalmente os imigrantes foram direcionados a Cruz Machado, na época uma região pouco povoada e de difícil acesso e comunicação.

        Considerando a curta permanência das famílias no lugar, percebe-se que as condições encontradas no sul do Estado não foram favoráveis aos colonos. Segundo a professora Neumann, as sucessivas dificuldades vividas em Cruz Machado, por mais de uma década, motivaram a mudança delas.


        A CAMINHO DE FOZ

        A notícia de que o Governo do Estado estava distribuindo terras devolutas nas cercanias da cidade de Foz do Iguaçu entusiasmou os imigrantes alemães do Halle, assentados em Cruz Machado, e algumas famílias vizinhas, a transferir morada à Tríplice Fronteira, em 1928. Uma viagem penosa, feita em carroças e animais de carga, ao longo de várias semanas.

        Como bons produtores rurais, os novos moradores foram bem recebidos pela população de Foz do Iguaçu. A cidade era carente de gente na produção de alimentos campesinos. Os recém-chegados ganharam áreas de terra nas atuais vilas de Carimã e Yolanda.


        A COOPERATIVA

        A falta de estrutura básica em Foz do Iguaçu era uma rotina diária para a população do lugar e agora também aos recém-chegados. Para suprir a deficiência na saúde, no comércio, cultura e religião, de forma solidária os alemães, holandeses e outros migrados à Tríplice Fronteira se organizaram numa cooperativa, a “Bauernverein”.

        A primeira diretoria da associação era integrada pelos pioneiros das famílias Welter, Colombelli, Weirich, Niewenhoff, Boyarski e Kercklek. “Na associação eram tratados interesses rurais, ajuda aos necessitados e, festas de Natal, bailes, reuniões em geral”. (Ibidem).

        A distância e as dificuldades de acesso ao comércio e interesses culturais com as outras cidades brasileiras mantiveram por longo tempo Foz do Iguaçu fortemente ligada a Porto Aguirre, agora Puerto Iguazzú, no lado argentino.
 

“Naquela época, nosso contato maior era com a Argentina. As comunicações e o comércio com as cidades brasileiras, quase impossíveis, em virtude das estradas intransitáveis, tornavam Porte Aguirre, hoje Puerto Iguazú, o local para suprir nossas necessidades de mantimentos de compra e venda de produtos agrícolas” (Ibidem, p. 16).

 

        A GUERRA

        Com a adesão brasileira aos Aliados na II Guerra Mundial, o Brasil tornou-se inimigo da Frente do Eixo, formado pela Alemanha, Itália e Japão. Essa formalidade atingiu em cheio os três grupos étnicos fixados no Brasil.

        A política getulista, doravante, foi de manter vigilância permanente sobre alemães, italianos e japoneses, proibindo a fala, a educação dos filhos, o acesso à literatura e a prática religiosa em suas línguas maternas

        O único jornal impresso na língua da pátria-mãe os alemães adquiriam em Porto Aguirre. “Quando o Brasil declarou guerra contra a Alemanha, as coisas se tornaram muito tensas. O jornal foi proibido, porém meu pai continuou a trazê-lo da Argentina, para a própria leitura e para alguns vizinhos lerem”. (Ibidem).

        A vigilância, que já era intensa sobre os alemães na fronteira, a partir da apreensão de um exemplar do periódico alemão na residência da família Niewenhoff tornou-se ostensiva e abusiva.

        Além da prisão do pioneiro, foram detidos os dirigentes da cooperativa e vários chefes de família, sob alegação de estarem fomentando o nazismo e propagando a doutrina nazista.

        Amedrontada e temendo pelas suas vidas e a de familiares, a maioria das famílias alemãs da cidade de Foz do Iguaçu se refugiou na região central do Estado. Os imigrantes subiram em suas carroças e partiram ameaçados por policiais bem armados.

        Conforme relata José A. Colodel:

 

“Por determinação do Ministério da Guerra, todos os colonos imigrantes foram reunidos em Foz e depois seguiram viagem para lugares distantes. Levaram 30 dias e 30 noites para ir de Foz do Iguaçu a Pitanga (...). Eles foram de carroça de boi, comendo ‘apepu’ (laranja silvestre, bastante amarga e azeda) e pinhão, dormiam debaixo da carroça” (apud PIMENTEL, 2005).
 

        A família Neumann foi para Guarapuava, onde chegou após 28 dias de jornada. O exílio da família durou até 1945, com a derrota e rendição das tropas lideradas por Adolf Hitler.

        Desta vez, a matriarca com as filhas e mais a família italiana Nadai fizeram a viagem de retorno de caminhão, com parte da mudança. Chegaram a Foz do Iguaçu após dois dias. O pai e um filho fizeram o percurso de carroça, levando o restante dos pertences. Foram necessárias duas semanas para fazer o trajeto.

        Com o fim do grande conflito, a maior parte dos refugiados voltou à Tríplice Fronteira e reocupou suas propriedades. Seus descendentes estão hoje forte e pacificamente integrados na comunidade local.

 

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:

 

NEUMANN, Elizabeth. Filha de Imigrantes. Curitiba: obra não publicada (apostila), 2005.

PIMENTEL, Ronildo. Memória: a saga de alemães e holandeses na fronteira. Boca Maldita, 02 de marco de 2012. Disponível em: www.bocamaldita.com/memoria-a-saga-de-alemaes-e-holandeses-na-fronteira. Acesso em: 13 de maio de 2016.

 

 


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