|| Eu conheci o homem que desenhou o Castelletto de Matelândia…

Pioneiros 07 de Fevereiro de 2025

Por Izabelle Ferrari, de Foz do Iguaçu.
 

E o mais impressionante foi descobrir que eu já conhecia o homem que desenhou o Castelletto de Matelândia, mas não sabia que ele era ele.

- “Leonid!”, falei com meu colega de infância, “Como você nunca me contou que o seu pai é o homem que desenhou o Castelletto de Matelândia?!”

Quando criança (e ainda hoje), Leonid tinha uma habilidade natural e espantosa com desenhos. Até guardei alguns por pura admiração. O que jamais imaginei é que, trinta e tantos anos depois, isso faria todo sentido para mim.

O pai do Leonid é o homem que aparece na primeira foto desta postagem. Claudino Bózio, conhecido por todos como Xará, é o dono da habilidade que meu colega de escola herdou. E foi ele que desenhou o Castelletto de Matelândia. Queria apresentá-lo a vocês.

O desenho surgiu entre riscos rápidos feitos imediatamente após um pedido:

- “Aurélio Dal Pozzo pediu pra que eu fizesse uma meia-água pra ele vender nozes. Ele vendia mudas de nozes pecan e eu falei para ele: ‘posso apresentar uma ideia também’”? - eis a conversa que antecipou o esboço.

A resposta do senhor Dal Pozzo surgiu tão rápida quanto o desenho:

- “Vou fazer”.

- “Na hora, ele nem pediu mais detalhes,” relembra Xará. “Nem perguntou como seria dentro, como ia funcionar, nada. Ele viu a forma, nem quis saber da função, sabe? Só a forma já foi interessante pra ele. Ele sempre foi empreendedor, gostava de tentar fazer as coisas e aí começou!”

A ideia inicial era de que seu Dal Pozzo vendesse as mudas na parte de baixo e morasse na parte de cima. Era 1.986. O desenho criativo também vinha amparado pelo conhecimento técnico do menino incompreendido que se formou projetista e, depois, arquiteto. As pedras de basalto foram trazidas da cidade natal do dono da encomenda, Paraí, no Rio Grande do Sul.

Castelo pronto e o encantamento foi geral. Morar ali seria quase uma afronta, porque as pessoas queriam entrar, conhecer, visitar... Logo vieram as pequenas adaptações que fizeram do atrevido projeto um atrativo.

Quando a gente termina a curva da BR 277, indo de Foz pra lá ou vindo de Cascavel pra cá, é difícil conter o olhar. O Castelletto de Matelândia é algo, de início, inacreditável. Diante dele, são tantos detalhes que somos capazes de nos desprender da contagem do tempo. E ainda tem a pirâmide, ao lado, que também foi projetada pelo Xará.

- “Era de madeira e daí pediram pra mudar. Tiveram vários arquitetos que fizeram projetos e eu apresentei a pirâmide na escala dez vezes menor do que é a original e aceitaram.” – conta Xará.

Como eu conheci o Xará?

Conduzida pela vibração das histórias reais. Xará foi aluno do senhor Olivo Biazus, filho do homem que fundou Matelândia. Seu Olivo foi um dos professores de matemática mais respeitados da cidade.

E, apesar da impressionante habilidade com cálculos e com o uso racional da mente, soube identificar que aquele aluno que em vez de uma redação apresentou uma história em quadrinhos ao professor de Português estava, apenas, com dificuldade de se expressar com palavras.

Em vez de zero, o colega professor foi convencido a reconsiderar. O menino Xará percebeu que não era um fracasso, era diferente. E a afeição do professor pelo aluno incomum se tornou amizade por bons tempos de vida. Eles trocaram informações sobre o projeto do Castelletto, conversaram sobre trigonometria quando Xará fazia medições de topografia e, de forma generosa, partilharam admiração mútua...

Essa e outras histórias farão parte da biografia do senhor Olivo Constantino Biazus que está sendo preparada com muita dedicação e reverência a alguém que já partiu, mas que tanto nos deixou.

Me conta: você já sabia disso?


Castelleto de Matelândia à beira da rodovia BR 277.

Castelleto de Matelândia à beira da rodovia BR 277.

|| Autora com o filho (Leonidi) do desenhista da

|| Autora com o filho (Leonidi) do desenhista da "Cateletto de Matelândia".

|| Leonid, filho do

|| Leonid, filho do


Compartilhe

COMENTÁRIOS

Memória Rondonense © Copyright 2015 - Todos os direitos reservados