Adolfo Ângelo Seganfredo e a administração do Porto Britânia

17 de Março de 1987

Ouça a entrevista

 

ADOLFO SEGANFREDO E OS SEGREDOS DA MADEIRA

Toledo - Nascido em Veranópolis, no Rio Grande do Sul, em 17 de setembro de 1919, Adolfo Ângelo Seganfredo viveu, e vive até hoje uma vida simples ao lado da esposa Luísa, com quem teve João Paulo, Carlos Alberto e Maria Teresa, filhos que aprenderam a fazer da simplicidade do pai uma filosofia de vida que passaram aos netos de seuAadolfo, João Paulo, Karene, Caroline e Maria Isabel. Dentro do seu pensamento entende que ao contrário de outros pioneiros, não haveria porque ter mais filhos "melhor ter poucos e poder criá-los", ensina o pioneiro. É, assim é seu Adolfo Seganfredo, uma pessoa que desde pequeno aprendeu que na vida é preciso enfrentar muitas batalhas para poder vencer.

      Dentro desta ótica não teve medo em se tornar um dos primeiros técnicos do Frigorífico Sadia em Concórdia, Santa Catarina ainda na década de 40. mostrando que ali, no Estado vizinho, sua relação com as coisas de Toledo começassem a se concretizar. Ironia ou não, a mesma Sadia que anos mais tarde viria a se instalar na cidade que o pioneiro veio conhecer por acaso em 1950 atendendo o convite de alguns amigos. " Eu tinha outros planos e estava com viagem marcada para Porto Alegre, mas acabei por aqui", conta o pioneiro que se criou na roça, aprendendo ainda os segredos da olaria.
 

      VISITA DEMORADA

      A viagem a Porto Alegre, onde os tios haviam prometido uma vaga de caixeiro viajante, terminou quando surgiu uma oportunidade de trabalho na Colonizadora Maripá. "Vim passear e seu Willy Barth me ofereceu para trabalhar no escritório da Maripá, mas não fiquei aqui não", relembra seu Adolfo que acabou indo parar em Porto Britânia, onde permaneceu por 11 anos sendo o encarregado pela distribuição da madeira, embora naquela época o envolvimento do pioneiro era muito maior, cuidando do bem-estar de motoristas, de carregadores, organizar os lotes de madeira para exportação, em receber as toras, enfim, cuidando de todos os detalhes do chamado ciclo da madeira, no início da colonização de Toledo.

      "Ali a gente lidava com todo o tipo de pessoas, com brasileiros e também muito paraguaios, pessoas simples com quem desenvolvemos uma grande amizade", recorda o pioneiro que, por volta de 1956, contabilizou mais de 300 homens envolvidos no carregamento de madeira, principalmente para a Argentina, sendo que em média entre 50 e 100 pessoas trabalhavam normalmente.

      "A gente saía daqui e ia até o Arroio Marreco para poder ligar para alguém, porque lá tinha o único posto telefônico na região". A estrada até Porto Britânia era de chão batido e, "quando chovia era um sacrifício. Transportar a madeira pelos caminhos estreitos no meio do mato era uma tarefa praticamente impossível", destaca seu Alfredo, lembrando ainda das poucas casas e das pequenas olarias que existiam na região. 

       
       MADEIRA 

       Conhecedor como poucos dos segredos da exportação da madeira, seu Adolfo lembra do departamento formado pela Colonizadora Maripá (Willy Barth), Britânia (Luiz Carlos Becker), Agroindustrial do Prata (Domingos Zardo), Agroindustrial Boi Caé (Paulino Manica) e a Agroindustrial Guaçu (Carlos Sbaraini). O departamento foi formado para que as empresas pudessem alcançar a cota mínima para continuar mantendo a exportação. O trabalho do seu Adolfo consistia em receber o movimento de cargas e despachar a madeira de acordo com cada empresa, organizar os relatórios, um serviço brurocrático, mas necessário. "Era uma serviço puxado. Trabalhávamos todos os dias, mas era compensador ver aquela gente toda trabalhando, ajudando a construir uma cidade".

      Enquanto ajudava a administrar Porto Britânia seu Adolfo Seganfredo aproveitou para montar um negócio em Vila Margarida, uma espécie de secos e molhados. O negócio foi se expandindo até que conseguiu montar uma filial em Porto Mendes, "negócios que me ajudaram após sair da Maripá quando o Willy Barth faleceu prematuramente", em 1962. A divisão da empresa do "rei da madeira" como seu Seganfredo definia Willy Barth, não o deixou satisfeito e o jeito foi seguir seu próprio caminho. Após  deixar de vez a Colonizadora Maripá, trabalhou como porcadeiro por um tempo, entregando suínos em várias cidades, montou um armarinho, chegou até mesmo a cuidar de um açougue.

      Lembra do tempo que o combustível usado pelos caminhões que extraiam madeira no meio da mata fechada vinha de barco até Porto Britânia e era distribuído em tambores entre os motoristas. " A gente não tinha hora, não tinha nada, se chegasse uma pessoa à meia-noite ou de madrugada, precisávamos atender porque a estrutura no local era primária", ressalta seu Adolfo que detalha ainda como era feito o carregamento das toras. A planachada era feita numa área limpa com as toras sendo arrumadas em catres que formavam jangadas para serem transportadas pelo rio. 


      POLÍTICA

      Apesar de ter ocupado um cargo importante numa das regiões mais movimentadas de Toledo nas décadas de 50 e 60, seu Adolfo Seganfredo nunca se envolveu em política, mesmo tendo convivido com nomes fortes da política toledana, como Willy Barth, por exemplo. "Nunca me envolvi   porque não gosto da politicagem que existe, de certas coisas que a gente observa e não pode fazer nada", explica o pioneiro que sempre acompanhou todo o processo de transformação política da cidade, hábito mantido até hoje. 


      RAIO-X

      Para seu Adolfo Seganfredo o crescimento de Toledo nesses 52 anos que acompanha a cidade não chega a ser uma supresa e, embora não se arrenpede em ter vindo para cá, reconhece que em muitas situações deveria ter administrado melhor seus próprios negócios, "mas em relação à cidade só posso dizer que Toledo poderia estar muito melhor se não tivesse parado no tempo na década de 60", avalia comparando o desenvolvimento que Cascavel teve, por exemplo, a partir da mesma época. Para ela a cidade poderia estar numa situação melhor em sua estrutura caso Willy Barth não tivesse falecido, mas também elogia o trabalho realizado até agora.

      Em sua visão o fim do ciclo da madeira deixou abandonada uma boa parcela da sociedade de Toledo que não conseguiu seguir os rumos de desenvolvimento agrícola. Mas nem por isso deixa de destacar que Toledo vive uma fase gloriosa de sua história e sente-se feliz em poder ter contribuido de maneira, mesmo singela, para o crescimento da cidade.

     Para o futuro o pioneiro sabe que a cidade não poderá parar de crescer. "Eu acredito que a cidade, se os administradores forem um pouco mais fiéis, que sejam toledanos de coração, que queiram realmente trabalhar por Toledo. A cidade só tem a crescer", analisa. E completa afirmando que a cidade não deve nada a nenhuma outra cidade do País em todos os sentidos. "Esta é uma cidade especial por causa da força de trabalho de sua gente, das pessoas que apostam em tentar uma vida melhor, assim como eu, mesmo que por acaso", brinca o pioneiro.

      Satisfeito com sua vida seu Adolfo Seganfredo continua ainda hoje mantendo seu hábitos simples, como cultuivar a hora no quintal de sua casa, em frente ao Hospital Bom Jesus, onde ele e a inseperável companheira, dona Luísa, vivem observando ainda hoje o quanto a cidade cresceu. Entre uma enxadada e outra o pioneiro espera apenas aproveitar os anos que ainda lhe restam, orgulhar-se dos filhos e acompanhar o desenvolvimento dos netos. "O que quero é viver, continuar vivendo da minha maneira", ensina em sabedoria popular.

       Certamente, enquanto Toledo existir, seu Alfredo continuará existindo, assim como outros pioneiros, outros Alfredos, Marias, Joãos, Wilsons, Joanas, Terezas, Carlos, enfim, pessoas simples como seu Alfredo que ajudaram a construir Toledo 50 Anos - Cinco Décadas de Histórias (COSTA Luiz Alberto Martins da (organizador) et allii. Toledo 50 Anos - 1952-2002/Jornal do Oeste. Toledo: Sul Gráfica, 2002: 130, 131, 132 e 133)
 

(Texto transcrito. Complementa a entrevista ou vice-versa). 

      
 


 

      

 

 

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