Seno José Lang e Lauro Eckstein - pioneiros de Quatro Pontes

19 de Julho de 2017

A entrevista foi realizada pelo repórter Lincoln Leduc, da Rádio Difusora do Paraná, para o Jornal de Domingo, no quadro "Personalidade da Semana", em 14 de janeiro de 1984.

Transcrição da entrevista: 

- Repórter – Para a edição de hoje do Jornal de Domingo, temos em Personalidade da Semana, como convidados especiais, duas personalidades de Quatro Pontes, respectivamente, o primeiro e o segundo moradores da localidade: senhor Seno Lang e o senhor Lauro Eckstein. O senhor Seno Lang chegou a Quatro Pontes em 1951, no dia 1º de julho¹, após 6 dias de viagem entre Toledo e Marechal Cândido Rondon para cumprir, na época, 108 quilômetros. O senhor Seno Lang com quem nós vamos conversar inicialmente e depois também faremos um bate-papo com o senhor Lauro Eckstein. Senhor Seno Lang, o senhor foi o primeiro morador de Quatro Pontes. Como foi essa vinda de Toledo até Quatro Pontes? 

- Seno Lang – Levou seis dias. Saíamos de lá sábado de manhã e chegamos no outro sábado. Foi 8 dias.

- Repórter – Onde se passava para chegar até aqui?

- Seno Lang  – Passamos por Margarida, Pato Bragado, KM 5, Iporã² e aí chegamos aqui, Quatro Pontes.

- Repórter – E o transporte era de caminhão ou como era feito?

- Seno Lang – De caminhão.

- Repórter  – E por que não se podia passar ou não dava de vir por Vila Nova na época? Dois Irmãos?

- Seno Lang – Não existia estrada. Por Cavalo Morto as pontes e Sarandi também estavam todas quebradas, as pontes. Aí quando começamos com a serraria fornecemos as pranchas para renovar todas as pontes.

- Repórter – O senhor construiu/instalou a primeira serraria aqui?

- Seno Lang – A primeira serraria em Quatro Pontes foi instalada por nós.

- Repórter – O que é que existia aqui em Quatro Pontes quando o senhor chegou aqui, o senhor foi o primeiro morador, assim. O que é que havia já alguma coisa em Quatro Pontes? A colonizadora já tinha feito alguma coisa?

- Seno Lang Não! Não tinha nada. Unicamente o que existia era um barracãoᵌ no potreiro ... onde hoje está o potreiro do Bokorni, onde o Lauro Eckstein era depois o bolicheiro da Maripá.

- Repórter – O senhor sabe por que o distrito, a localidade se chama de Quatro Pontes?

- Seno Lang -  Ah, isto é um nome antigo. Isto já existia no mapa antigo, o nome de Quatro Pontes⁴.

- Repórter – Antes do senhor chegar aqui, antes de ter morador já existia no mapa?

- Seno Lang – Já. Já existia o nome.

- Repórter – Senhor Lauro! E o senhor tem algum conhecimento sobre Quatro Pontes, o nome?

- Lauro Eckstein – Olham pelo que eu sei, porque eu ouvi falar que nos tempos dos ingleses⁵, existiam quatro pontes: essa Matilde Cuê, Quatro Pontes, Itá e Guaçu. Então, vem pelo que eu sei, surge o nome ali, as quatro pontes. De lá, quer dizer de lá do Porto Britânia para chegar no tempo dos ingleses pela exportação de, quer dizer, de exploração de erva, de erva-mate, que foram até Campo Mourão. Pelo que sei o nome surgiu ali.

- Repórter – Quando o senhor veio prá cá, o senhor Seno instalou a primeira serraria, o senhor foi o segundo morador aqui em Quatro Pontes. Como foi a sua chegada por aqui?

- Lauro Eckstein  – A minha chegada foi no tempo do Empório⁶, com os Casarin. Quando os Casarin estavam gerenciando o Empório⁷. E a vinda foi por Pato Bragado também. Eu vim aqui em 1951, no dia 19 de agosto. Dá cento e poucos quilômetros. Como o Seno falou por estrada, estrada por Sarandi não tinha naquele tempo. Tinha mas estava interrompida as pontes. Em começo de 1952 foi aberta a estrada de Dois Irmãos a Toledo, por Dois Irmãos a Toledo.

- Repórter – Como vocês faziam para se abastecer de alimentos, se prá Toledo não havia estradas? Rondon já tinha alguma coisa?

- Lauro Eckstein – Rondon tinha ali o comércio que era do Empório⁸ e do Nied⁹. O que tinha lá dois hotéis e uns moradores que tinha lá, o Benno Weirich e outros que não recordo mais o nome. Era pouca gente.

- Repórter – E que tipo de atividade o senhor começou? Foi logo abrindo mato sendo agricultor ou ceramista que hoje é o senhor ou que tipo de atividade o senhor desenvolveu?

- Lauro Eckstein – Não! Eu trabalhei com simples empregado, empregado no comércio do Empório Toledo Ltda.  naquele tempo. A matriz era em Toledo e essa aqui era a filial 2. Nos anos 52 e 53, este comércio trabalhou com 13 filiais naquele tempo.

- Repórter – Senhor Seno! Parece que Quatro Pontes ... que gostaria que o senhor dissesse primeiro... vamos alterar um pouquinho ... como é que cresceu Quatro Pontes depois ... em 1951 os senhores chegaram, 1952 e dali em diante como foi?

- Seno Lang  – Ah! Começou a crescer logo em seguida. A Maripá logo desmatou a vila e construiu umas dez casas e um hotel. E dali logo em seguida nós já construímos uma igreja, entre 17 famílias. E assim ...

- Repórter – O senhor ... nessa igreja deve ter acontecido uma festa de inauguração, por certo. O senhor ou o senhor Lauro talvez conseguem se lembrar? Parece que tinha uma história de tortas no meio, não sei se é exatamente nessa festa ou  onde tem uma história de bolos e tortas?

- Lauro Eckstein -  Isto não me recordo ali essa na primeira festa dali em Quatro Pontes. Não tenho lembrança. Eu sei que eu trabalhei ali na festa. Mas isso não recordo.

- Repórter – Senhor Seno, vamos ver se o senhor se consegue lembrar?

- Seno Lang– Não me lembro mais bem da festa. Porque já foi uma festa muito antiga. Mas foi uma boa festa mais ou menos na igreja.

-  Repórter – O senhor não se lembra se veio gente de Toledo, de Rondon e coisa assim?

- Seno Lang– O dirigente era o padre Patuí, o Antonio. Era o diretor da construção e vigário de Toledo. Nós pertencia a Toledo, era a paróquia.

- Repórter – E essa história das tortas que a gente estava comentando antes ... e parece que ... como é que foi isso?

- Lauro Eckstein – Ah, essa história das tortas isto é uma história diferente. Isso foi numa festa de aniversário. Já era uma torta preparada de traição para nós roubar. No fim, colocaram quem? O Lauro e Ademir a roubar a torta. Quando foi repartida a torta, sabe o que era? Pura polenta pintada não sei com quê.

- Repórter – Quem é que preparou isso?

- Lauro Eckstein – Quem preparou isso foi o falecido Willy Mallmann e Hugo Haubert que hoje mora em Porto Mendes e que era um dos fundadores da cerâmica que atualmente estou dirigindo.

- Repórter – E essa festa de torta de polenta, onde era? Onde foi? Na casa de quem ou?

- Lauro Eckstein – Era ali num barracão de dois solteiros: Hugo Haubert e Felipe Sulzbach. Ali onde mora hoje a viúva Backes.

- Repórter-  Senhor Seno ... eu estou batendo papos com os dois, intercaladamente. Senhor Seno! O primeiro casamento, o senhor contava antes que foi uma festa de dois dias o primeiro casamento de Marechal Cândido Rondon. Fazendo um esforço, o senhor consegue se lembrar  que quem ou contraiu o primeiro casamento aqui, quem foi o rapaz e a moça? E como foi a festa?

- Seno Lang – Quer dizer o casamento de Rondon?

- Repórter – Exato.

- Seno Lang – Foi o senhor Oswaldo Heinrich, genro de Carlos Vorpagel, casou com a filha do Carlos Vorpagel. Foi a melhor festa da região. Começou em sábado de noite e foi até domingo fora.

- Repórter – E onde vocês conseguiam bebidas naquela época?

- Seno Lang – Isso foi conseguido pelo Nied, pelo Empório e o comércio de Rondon.

- Repórter – E gelo? Tinha bebida gelada?

- Lauro Eckstein -  Ah, naquele tempo não existia gelo. Gelo não tinha. Molhava com sal e saco de aniagem ... no poço.

- Repórter – E a cerveja do jeito como vinha morria?

- Lauro Eckstein-  Não!  Quando eu trabalhei no comércio em Quatro Pontes, o Seno sabe bem disso, ali, no domingo era preparado um saco de estopa e balde e depois largado dentro do poço e depois tirava do poço e, oh cerveja, tirava meia dúzia e botava meia dúzia e como era gostosa a cerveja naquele tempo.

- Repórter – E como foi o desenvolvimento depois? Quatro Pontes hoje tem luz elétrica, tem telefone, tem asfalto, tem todo o conforto possível.  Os senhores hoje morando praticamente no interior de Quatro Pontes ainda, a não ser o “seo” Seno ... entre a zona rural e o centro, mas já usufruindo de todo o conforto de Quatro Pontes, usufruindo de todo conforto possível. Como é que surgiu todo esse desenvolvimento?

- Lauro Eckstein – Esse desenvolvimento veio mais pela agricultura, mais criação de porco. Começou a desenvolver já em 53, 54 quando começou a exportação de porco. Eu sei que os primeiros porcos comprados no município de Toledo foram comprados aqui em Quatro pelo Empório de Toledo. E o Empório de Toledo levou a Ponta Grossa. Que era no tempo ali do frigorífico?

- Repórter – Wilson?

- Lauro Eckstein -  O Empório só trabalhou com a Wilson¹ᴼ. E ali começou devagar. Eu só me recordo do tempo do Empório ali que ali três famílias que eu sei que o velho Tonelli, falecido Ickert, os três são falecidos hoje ... e o outro do outro lado, ali o? a viúva mora ainda aqui ... não sei mais o nome dele ... só de três famílias que não não terminou o dinheiro no começo. Mas o resto, de todo mundo terminou o dinheiro. O primeiro dinheiro que foi feito foi em 52 quando deu uma safra cheia de feijão. O feijão naquele tempo estava 55, 60 a bolsa. E veio devagar então o desenvolvimento ...  mais agricultura. Luz chegou sim em 61 com a usina do Guaçu, construída pela Prefeitura de Toledo. Quem mais incentivou isso ali foi o falecido Willy Barth. Eu me recordo que eu ajudei com três mil cruzeiros naquele tempo que dava um hectare de chácara. Aquilo se foi nunca mais tive lembrança.

- Repórter – “Seo” Seno, e a prefeitura de Toledo na época que Quatro Pontes pertencia a Toledo, que tipo de apoio que o prefeito, a secretaria de Viação e Obras, no caso com as estradas, em que época foi construída a estrada por Vila Nova e depois por Dois Irmãos, o senhor se lembra?

- Seno Lang – Por Dois Irmãos a estrada foi construída em 52 e a mesma coisa por Vila Nova, Sarandi, pela prefeitura e a Maripá em conjunto. O primeiro prefeito de Toledo era o Dalloglio, o Ernesto.

- Repórter – O senhor que veio prá cá começou com serraria e hoje o senhor está na agricultura. A serraria não deu mais? A agricultura é mais vantajosa ou o que deu?

- Seno Lang – Oh, a serraria parou. Não existia mais madeira. E depois começamos a trabalhar na lavoura, na roça.

- Repórter – O senhor chegou a exportar madeira via Porto Britânia, Porto Mendes, coisa assim? A Maripá comprava madeira sua? Ou a madeira que o senhor produzia era só para Quatro Pontes e região aqui?

- Seno Lang – Não ! A Maripá comprava uma quantia de madeira para o gasto deles, serviço deles para construir pontes. Nós fazia para a construção de casas na região. E serramos toras para a freguesia, enfim.

- Repórter – E hoje a agricultura está tendo mais vantagem? Mais que a serraria antigamente? Ou como que é?

- Seno Lang – Hoje a agricultura é mais tranquila. Não tem incomodação ...(risos). Ninguém se incomoda com nada.

 - Seno Lang – Senhor Lauro! O senhor Seno estava falando que ele teve que parar com a serraria porque não existia mais madeira na região. E o senhor toca uma olaria, administra uma olaria cujos fornos são tocados à lenha. De onde vem essa lenha que o senhor consegue hoje?

- Lauro Eckstein – Pois é ali nós pegava até na região ... pois agora está meio difícil aqui. Estou comprando lenha agora que vem de Ibema, no município de Cascavel. Nessa região ... comprando a lenha ali. Aqui não existe mais. Existe mas muito pouco. E futuramente vamos ver o que vai dar. O povo vai ter que se virar pelo Mato Grosso ou essa região, aí pelo interior de Cascavel perto, como Catanduvas onde ainda tem, tem madeira.

 - Repórter -  Bem, na Personalidade da Semana, também vamos entrevistar o senhor Lauro Eckstein na condição de ex-vereador pelo município de Toledo mas como representante de Quatro Pontes. Há pouco nós perguntávamos ao senhor Seno Lang sobre que tipo de benefícios a prefeitura de Toledo trazia para Quatro Pontes na época em que este distrito pertencia aquele município. Mas, ex-vereador  Lauro Eckstein em que época o senhor foi representante de Quatro Pontes no município de Toledo?

- Lauro Eckstein – Isso foi na época de 60, quando fui eleito. Eu sei que eu já estava morando ali embaixo. É 60 pela Aliança. Aliança Toledana lá fui eleito vereador lá. A Aliança parece que elegeu quatro vereadores.

- Repórter – Elegeu quatro vereadores daqui de Quatro Pontes?

- Lauro Eckstein – Não! Um de Dois Irmãos, um daqui, o Egon Pudell ou três só? Isto até já me esqueci. Isto foi justamente na época quando foi desmembrado o município de Marechal Cândido Rondon. Pouca coisa se fazia naquele tempo.  Existia as reuniões mais naquele tempo.  Toledo já não mais se interessou por Rondon, que era desmembrado. Já então pouco auxílio tinha naquele tempo ali. Mais o que no começo fazia ali era a Maripá. A Maripá era a mão direita. Faltou  alguma coisa era só falar com o Willy Barth e ele resolvia o problema. Prefeitura no começo com você sabe é difícil. Tudo é difícil. Só a colonização ali com a Maripá, isso são poucas firmas em que conheci até hoje, o que a Maripá fez ali pelo falecido diretor Willy.

- Repórter – O senhor se lembra como foi o início de Marechal Cândido Rondon, o primeiro prefeito? Como é que começou o município de Marechal Cândido Rondon já que o senhor na época era vereador deste distrito, tudo bem ainda pertencente ao município de Toledo, mas tudo se ligou? O senhor teria condições de relatar?

- Lauro Eckstein – É difícil, é longo, faz muito tempo que passou. Sei que não era fácil no tempo do Arlindo Lamb quando ele foi eleito. A única coisa que me recordo a construção da prefeitura foi a Maripá que construiu lá. Depois o Arlindo começou a desenvolver os serviços como prefeito ali. Agora, também não era fácil para o Arlindo! Mais que isso a gente não sabe ali. Eu já esqueci.

- Repórter – “Seo” Lauro, ... “seo” Seno, como é que foi eleito o primeiro vereador representante de Quatro Pontes?

- Seno Lang  – O primeiro vereador de Quatro Pontes foi o Dr. Rubens Stresser. Ele fez 205 votos¹¹ ... eram 206 votantes. Ele fez 205 votos. O outro que não votou nele, era o fiscal de Toledo.

- Repórter – E esse primeiro vereador, ele está onde hoje? O que é ele hoje?

- Seno Lang – Ele trabalha no Banco do Brasil. Ele é o chefe do CETRIN, do trigo. Ele trabalha 27 anos no Banco do Brasil em Curitiba.

- Repórter – E porque é que essa união de 205 eleitores em Quatro Pontes, 205 votos em favor dele? Dessa união de toda a comunidade resultou na eleição dele e quais os resultados dele prá comunidade na condição de vereador?

-Seno Lang– Ah, ele trabalhou muito prá comunidade. Ele favoreceu em doença. Tudo que era caso ele ajudava. Ele nunca deixou alguma pessoa assim.

- Repórter -  Hoje se o senhor for lá no CETRIN procurar ele, ele se lembraria do senhor?

-Seno Lang – Ele cada volta e meia ele visita nós. Eu visitei ele umas 3, 4 vezes. No ano passado festejemos em Curitiba. Ele fez um churrasco lá... ficamos lá o dia interior. Ele até ficou bêbado.

- Repórter – “Seo” Seno, se hoje Quatro Pontes ainda pertencesse a Toledo como temos Sarandi que é muito próximo daqui que pertence a Toledo. Se Quatro Pontes ainda pertencesse a Toledo, seria vantagem?

- Seno Lang – Não! Não seria vantagem. Porque aqui já estamos perto do centro, da sede. Toledo já ficamos mais longe para nós. Não é vantagem, Toledo.

- Repórter – Como estava dizendo antes, Quatro Pontes hoje já tem telefone, luz, asfalto, água, toda a infraestrutura. Dentro de poucos dias deverá abrir um posto avançado do Banestado também. Afora isso, o que mais está faltando em Quatro Pontes?

- Seno Lang – Em Quatro Pontes ainda falta muita coisa. Falta 2º grau, ginásio já tem estadual; hospital também falta, por certo; e falta uma porção de coisas.

- Reporter – O senhor acabou de falar que falta um ginásio, um colégio de 2º grau em Quatro Pontes. E, a propósito, agora nesta semana surgiu um fato novo com respeito ao ensino em Quatro Pontes: a CNEC colocou a venda um prédio que a comunidade construiu para ter a sua escola. Como o senhor está vendo esse caso, primeiro como foi construído este prédio, como foi adquirido esse prédio ou “seo” Lauro prefere falar à respeito?

- Lauro Eckstein -  Aquele prédio foi adquirido naquele tempo quando era do Campagnollo¹².  Era um hospital, hospital do Campagnollo. Aquilo foi adquirido, foi pago 9 milhões naquele tempo. Eu sei que me sacrifiquei neste prédio ali. Eu ajudei com 300 mil naquele tempo. Isso deve existir dentro da parede ainda hoje, na pedra fundamental lacrada lá dentro com todos os nomes daqueles que contribuíram naquele tempo. Lembro que eu fiz a campanha para comprar isso ali. Inclusive emprestei dinheiro para gente que não podiam ajudar, para me pagar após quando podiam. Dois, três anos depois o pessoal me pagou, para poder adquirir essa construção. Essa construção, se é para eu falar, essa pertence ao povo. E se for vendido que devolvessem o dinheiro para os que construíram. Não que eu tenho tanto dinheiro lá dentro que me faz falta mas que devolvam ao povo.

- Repórter  - E o fato...?

- Lauro Eckstein – Não acredito que a CNEC tenha razão de querer vender aquilo ali. O que eles querem fazer com esse dinheiro? (... não entendível). Que deixassem para o povo ou que dessem para uma instituição de caridade. Por exemplo, que dessem para a uma casa de sopa, de crianças abandonadas. Mas não vender e levar o dinheiro embora. Isso aqui é do povo e deve ficar para o povo.

- Repórter  – “Seo” Seno, seu pensamento a respeito?

- Seno Lang – Não! Isto foi o povo que ajuntou o dinheiro, trabalharam para este colégio, foi comprado do Campagnollo e isto pertence ao povo. Não pode, o dinheiro não pode sair para Curitiba. Isto não pertence a turma de Curitiba.

- Repórter – “Seo” Seno, no tocante a política, o senhor que veio a Quatro Pontes que não não existia nada aqui, mas já constava do mapa. A partir de então, o senhor teve a oportunidade de eleger vários prefeitos pelo município de Toledo e dois prefeitos pelo município de Marechal Cândido Rondon, bem que depois desses dois outros já assumiram a prefeitura e todos eles nomeados. De todos esses prefeitos que já dirigiram o município de Marechal Cândido Rondon e do atual que está dirigindo, o qual trouxe mais benefícios para Quatro Pontes?

- Seno Lang – Não! Isso todos eles foram...

- Repórter – Bons!

- Seno Lang – Bons! Não vou criticar nenhum deles. Toda a gente, não é hora para criticar eles numa hora dessas.

- Repórter – Mas o senhor na condição de primeiro morador de Quatro Pontes, se o senhor fosse hoje prefeito, o senhor que conhece Quatro Pontes desde a primeira foiçada que foi o senhor quem deu,  o senhor fosse prefeito o que o senhor traria em primeiro lugar para o distrito?

- Seno Lang – Olha, em primeiro lugar era estrada no interior, caprichar melhor. As estradas no interior não são muito caprichadas. Isto era a primeira coisa. E dai em frente podia ver o que faltava. Os prefeitos sempre procuram mais para a cidade mas é o interior que dá vida para a cidade, também tem que se atender melhor.

- Repórter – Senhor Lauro Eckstein, o senhor que foi vereador na época em que o município de Marechal Cândido Rondon foi instalado, o senhor tinha condições tranquilas na época para se candidatar a prefeito. Já era vereador, já era político. Se hoje o senhor fosse prefeito o que faria pelo município, e principalmente se o senhor fosse prefeito de Quatro Pontes, o que o senhor faria pelo distrito?

- Lauro Eckstein – Olha, tem tanta coisa que a gente observa e vê no interior. Principalmente no interior tenho observado em vários municípios, mesmo municípios vizinhos, que aqui em Rondon é esquecido, não sei se não se lembram ou se não tem verba, principalmente, principalmente pontes sobre riachos que aqui no nosso município a maioria é construída de madeira. Muito dinheiro aplicado nessa região ali que poderia ser aplicado nessa parte. Pode ver numa enxurrada que talvez agora em diante com as microbacias. Eu tenho observado na nossa, nossa estrada aqui, que não tem mais água agora. Isso terminou agora com as enxurradas que anos atrás que teve ali, cada enxurrada leva as pontes embora. Se o município, se o prefeito pensasse um pouquinho pegasse uma ou duas pontes cada ano, ou três e fizesse isso de concreto. Nunca mais se incomodava. Tem muito dinheiro aplicado que a gente observa na cidade e justamente esta parte do interior que não se lembram.

- Repórter – “Seo” Seno Lang, o senhor disse que em Quatro Pontes estaria faltando além de uma escola de 2º grau, estaria também faltando um hospital aqui para Quatro Pontes. Mas em Quatro Pontes já teve hospital, tem hospital, um prédio para isso pelos menos já contou com um médico permanente aqui. E desde 1951, o senhor há 33 anos portanto tem que ir a Marechal Cândido Rondon. E agora o que é pior, no início o senhor precisava ir a Toledo. Como é que o senhor fazia quando dava um problema de doença na sua família?

- Seno Lang – Ahum ... não! Fui procurar um médico em Toledo quando foi operada a minha primeira mulher e faleceu no hospital de Toledo. Tinha ... fomos levado pelo agrônomo Dr. Rubens Stresser  nos levou nós pro hospital. Ali foi operada a primeira mulher e faleceu lá no hospital.

- Repórter – Mas isso foi talvez por terem chegado tarde ao hospital ou que houve?

- Sseno Lang  – Não! Ela já veio doente para o Paraná. Ela já sofreu no Rio Grande.

- Repórter – Bom, em contrapartida, apesar de todos esses contratempos, apesar de todos esses inconvenientes, eu tenho certeza que aqui em Quatro Pontes havia muita diversão. E uma delas. E um dos grandes passatempos, gostaria  que o senhor Lauro pudesse até talvez contar. Gostaria de saber dos fatos pitorescos, por exemplo, o que é comum quando se desbrava uma região, as caçadas. Existia muita caça aqui?

- Lauro Eckstein – Hum .. caça existia muito aqui, ali. Caça eu realmente não me interessei muito. Agora, caça existia muito. O que eu gostava era pescar. Neste mato no começo era fácil, muito fácil pescar. Hoje já é mais difícil. Agora, está certo, tinha um pessoal que ali caçava, se divertia com isso ali, fazia festa. Inclusive uma noite estivemos juntos ali – nessa o Seno não estava junto - , que a velha  viúva Kist era gaiteira – ela hoje ainda vive, não sei quantos anos que ela tem – tinha churrasco de porco-do-mato. A gaiteira era a velha Kist.

- Repórter – Que tipos de animais que eram mais sacrificados aqui? Qual a caça mais comum que havia aqui?

- Lauro Eckstein – O mais comum era porco-do-mato, tateto, veado, anta. Anta não tinha tanto ali.

- Repórter – Existia onça?

- Lauro Eckstein – Olha, eu não sei.  Não cheguei a conhecer. Acho que não tinha.

- Repórter – Não quer conhecer também?

- Lauro Ecksetin - Não! É bom conhecer. Mas acho que não tinha. Pode que uma e outra tinha ali. Aqui quando eu entrei em 51 era puro sertão isso ali, nunca, nunca ouvi falar em onça.

- Repórter – “Seo” Seno se lembra ou fez alguma caçada dessas ou se lembra de uma caçada dessas?

- Seno Lang  – Não! Eu nunca, nunca fui caçar assim. Mas nós trouxemos alguma anta prá casa com carro de boi. Os agrimensores que estavam ali acampados em nosso potreiro, caçaram antas e nós fomos buscar pelas picadas com carro de boi.

- Repórter – Eram animais tão grandes assim os animais?

- Seno Lang – Eram! Eram grandes. Pesavam 180, 190 quilos de carne. Grandes antas.

- Repórter – E as pescas? O “seo” Lauro estava dizendo que a coisa que mais gostava era pescar. Pescava-se muito aqui?

- Seno Lang – Não! Aqui nunca, não. Nós fomos pescar uma vez no Rio Paraná, onde que despeja o Guaçu no Rio Paraná e pescamos no mesmo dia que quando o Getúlio morreu. Nós pescamos 200 quilos ... não isto foi mais tarde já. Foi 200 quilos de peixe num dia só.

- Repórter – Num dia só, 200 quilos de peixe?

- Seno Lang – Era um de 64 quilos.

- Repórter - Que peixe que era?

- Seno Lang – Um mangurujú. Jaú, eles tratam.

- Repórter – E que outros peixes se pegava para dar 200 quilos? Um de 64 quilos, um jaú. O que eram os outros?

- Seno Lang – Os outros eram mangurujú também, de 10, 12 quilos. Foi pego dentro de 10 minutos.

- Lauro Eckstein – Aquilo foi uma pescaria! Eu estava junto aquela noite ali. Quase 200 quilos, quase 200 quilos limpo ali quando nós picamos e repartimos entre a turma, não sei, de entre 11 e 12. A turma dos Vorpagel, junto fomos no Rio Paraná, ali. Aquilo são noites, como o Seno falou, poucas horas da noite. No dia seguinte já voltamos.

- Repórter – Como vocês fizeram para tirar um peixe de 64 quilos da água?

- Lauro Eckstein – Olha, o velho Bokorni tinha uma Trilink ali. A Trilink eu acho que deve ter hoje ainda. Uma joia este homem tem. Uma Trilink 24. Este era o matador.

- Repórter – Tiveram que dar um tiro nele?

- Lauro Eckstein – Ah, tiveram que matar com espingarda.

- Repórter – Que? Que outro tipo de festa, que outro tipo de comemoração ou, de outro lado: as festas de hoje em Quatro Pontes e Marechal Cândido Rondon também, são iguais das de antigamente? Como é que é?

- Lauro Eckstein – Olha, em festa isto realmente tem uma diferença de dia prá noite. Naquele tempo era mais divertido. Não sei como o povo... era menos gente ali, um era mais chegado ao outros e hoje isso não existe, não existe. Não tem. Olha tinha uma amizade com o povo naquele tempo que pareciam irmãos. Hoje não tem mais isso ali. Não sei o que aconteceu ali. Diferença como dia e noite, aquele tempo até hoje.

- Repórter – No seu modo de ver “seo” Seno, a comunidade de Quatro Pontes como é que deveria fazer então para melhorar essa questão, para ser então mais unida, como era unida antigamente?

- Seno Lang – Ah, isso é muito difícil hoje. Hoje o povo é mais orgulhoso. Antigamente não. Tudo era mais simples. Todo mundo era mais chegado no outro.

- Repórter – “Seo” Lauro, 33 anos morando em Quatro Pontes. Valeu a pena?

- Lauro Eckstein – Valeu! Tá bonito hoje. Muito bonito hoje. Antigamente também era muito bonito. Para viver era melhor naquele tempo: mais simples.

- Repórter – Senhor Lauro, o senhor acha então que compensou vir morar em Quatro Pontes, ser o segundo morador na localidade?

- Lauro Eckstein – Ah, prá mim compensou! Talvez se o pai tivesse ficado no Sul, talvez seria a mesma coisa. Onde é que nós, onde eu me criei, onde a terra que o meu pai tinha lá embaixo era como aqui. Ah, prá mim recompensou. Eu estou satisfeito de ter o pai vindo prá cá naquele tempo, por ter me trazido casado fresco. É. Casei em julho e em agosto se mudamos prá Toledo. Morei um ano em Toledo e dai vim prá cá. Com o trabalho e o sacrifício que passei, estou satisfeito.

- Repórter – Esta foi mais uma entrevista para a Personalidade da Semana. Hoje tenho como entrevistados o primeiro morador de Quatro Pontes, senhor Seno Lang, e o segundo morador de Quatro Pontes, senhor Lauro Eckstein, ele também no período, no segundo período legislativo de Toledo, foi vereador representando o distrito de Quatro Pontes.

Boa tarde!!!

 

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Notas explicativas:

 

¹ - Segundo os familiares do pioneiro Seno José Lang, a data da chegada dele e de seu irmão Arno Nicolau Lang: é  05 de maio de 1951.

² - Trata-se de Iguiporã.

ᵌ - Era um antigo barracão edificado pelo ervateiro argentino Julio Tomas Allica, proprietário do então empreendimento Porto Artaza, localizado junto ao Rio Paraná,  no atual distrito de Porto Mendes. Esse barracão servia de abrigo para os funcionários que transportavam a erva-mate colhida na região de Campo Mourão e era exportada pelo Porto Artaza. A construção estava localizada próxima a margem direita da rodovia Marechal Cândido Rondon a Quatro Pontes,  sentido oeste-leste, antes de cruzar o riacho Quatro Pontes.

⁴ - O nome Quatro Pontes foi a designação do primeiro pouso dos vários estabelecidos pelo ervateiro Allica ao longo da estrada carroçável até Campo Mourão, onde explorava os ervais nativos e trazia o produto até as instalações em sua propriedade às margens do Rio Paraná, onde era beneficiada e exportada para a Argentina.Os pousos distavam cerca de 35 a 40 quilômetros entre um  e outro. Eram usados para pernoite dos funcionários e para o trato dos animais que puxavam as carroças de transporte. O primeiro pouso, a partir de Porto Artaza, era o Quatro Pontes. Segundo  alguns estudiosos, o nome é uma referência, por ser o primeiro estabelecimento de apoio depois de cruzar quatro pontes: a do riacho Apepú, que faz a divisa dos distritos de Porto Mendes e Bom Jardim; do riacho Avaí, que divide os distritos de Bom Jardim e Iguiporã;  e dos riachos Piacuê e Curvado, no distrito de Iguiporã. Como o castelhano era a língua falada em Porto Artaza, o pouso Quatro Pontes, era referido como “la posada a continuación de las cuatro puentes” ou simplesmente “Cuatro Puentes”. Outra versão de alguns historiadores para o nome de Quatro Pontes, bastante semelhante a anterior, é que no antigo caminho da foz do Rio São Francisco até o Rio Piquiri, que o ervateiro Allica ficou compromissado de alargar, conforme disposto na Lei Estadual nº  781/1908, de 20 de abril de 1908, <http://www.memoriarondonense.com.br/calendario-historico-single/04/20/>, a quarta ponte, a partir  da foz referida, se localizava sobre o riacho atualmente designado de Quatro Pontes, sendo a primeira sobre o Rio Branco (local hoje submerso pelas águas de Itaipu, na divisa do distrito de Iguiporã e o município de Pato Bragado), a segunda sobre o atual riacho Ouro Verde e a terceira sobre o riacho Curvado, ambos no distrito de Iguiporã. As duas versões ainda carecem de melhores pesquisas e confirmações. No entanto, parecem bastante plausíveis se comparadas com versões apresentadas por pioneiros do período colonizatório da Maripá. 

⁵ - A referência aos ingleses, se trata na verdade, da Compañia de Maderas del Paraná, formada por empresários ingleses e argentino,s que operava sua atividade de exploração de madeiras nobres no Oeste do Paraná, a partir da sede instalada no extinto Porto Britânia, depois submerso pelas águas do Reservatório da Itaipu Binacional. E a estrada que o pioneiro se referiu é, na verdade, a estrada carroçável aberta pelo argentino Julio Tomas Allica, desde  Porto Mendes até a região de Campo Mourão.

⁶ - Trata-se do Empório Toledo, de propriedade da colonizadora Maripá.

⁷ - Era a filial 2 do estabelecimento. A filial 1 do Empório Toledo foi instalado na então vila de General Rondon.

⁸ - Trata-se da filial 1 do Empório Toledo.

⁹ - Era o comerciante Alfredo Nied que estabeleceu a primeira casa comercial em Marechal Cândido Rondon.

¹ᴼ - A estadunidense Wilson estabeleceu os dois primeiros frigoríficos no Brasil, um em   Santana do Livramento (RS) e outro em Osasco (SP), em 1918. Mais  tarde instalou  outro abatedouro em Ponta Grossa, no Paraná, este dedicado à industrialização de suínos." Em 1971 o ramo brasileiro da Wilson foi vendido para um grupo argentino que manteve a marca, mas trocou o nome da empresa para Comabra. Em 1992 a Comabra foi incorporada pela Sadia" <http://stravaganzastravaganza.blogspot.com.br/2011/03/historia-dos-matadouros-frigorificos-no.html>. Acesso em 19.07.2017.  

¹¹  - Segundo o boletim oficial do TRE-PR, a votação obtida pelo candidato Rubens Stresser foi de 106 votos <http://www.memoriarondonense.com.br/calendario-historico-single/11/9/>. Acesso em 19.7.2017.

¹² - Trata-se de Avelino Campagnolo um dos médicos pioneiros da cidade de Toledo. Além do hospital edificado em Quatro Pontes, Campagnolo construiu um hospital em Marechal Cândido Rondon que anos depois foi adquirido pelo médico Italo Fernando Fumagalli.

 

  - Ver também: <http://www.memoriarondonense.com.br/calendario-historico-single/05/5/ > e <http://www.memoriarondonense.com.br/galeria-single/acervo-da-familia-lang-de-quatro-pontes/7/>. Acesso em 19.7.2017. 

 

    Obs.: Notas explicativas elaboradas pelo pesquisador Harto Viteck.

 

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AGRADECIMENTO

 

   - Agradecemos aos familiares do pioneiro Seno José Lang, na pessoa de sua filha Iara Lang, por disponibilizarem o áudio com a entrevista para reprodução e transcrição literal para leitura.  

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